Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
Os Sintagmas: tipos e propriedades<br />
Duas unidades básicas formam essa sentença. São elas: a<br />
irmã de Maria (o sujeito) e comprou uma casa bastante nova (predi-<br />
cado). Se você se lembra da abordagem tradicional, sabe que o pre-<br />
dicado, da sentença acima, é composto de mais de uma unidade: o<br />
verbo (comprou) e o objeto (uma casa bastante nova). Deve se lembrar,<br />
também, que ela fala em núcleos: o núcleo do sujeito (Maria);<br />
o núcleo do predicado verbal (comprou); o núcleo do objeto (casa).<br />
Lembra disso? Até aí ela parte de um princípio básico, comum a todas<br />
as línguas: é o núcleo que determina quais são os outros itens lexicais<br />
que podem se juntar a eles. No entanto, a descrição tradicional<br />
não dá conta da constituição interna dos sintagmas. Como diz Perini<br />
(1996, p. 93), ela é “excessivamente simplista e inadequada”. Ela,<br />
basicamente, se preocupa mais em descrever as funções sintáticas<br />
do que compreender as relações formais dos elementos. E, como<br />
você sabe, as funções são reconhecidas por meio de definições que<br />
misturam noções semânticas e sintáticas.<br />
Para uma sentença como 1, por exemplo, ela dirá que o núcleo<br />
do sujeito é “irmã” e que os outros elementos (a; de Maria) são adjuntos<br />
adnominais; que o núcleo do objeto é “casa”, e que os outros<br />
elementos (uma; bastante; nova) são também adjuntos. No dizer de<br />
Perini, “essa análise é simples demais para fazer justiça à complexidade<br />
dos fatos” (p. 93). Na verdade, cada um desses elementos<br />
que a análise tradicional chama de adjuntos desempenha uma função<br />
própria dentro da estrutura em que ocorre. Isso pode ser provado a<br />
partir das possibilidades de posicionamento. Para você entender isso,<br />
vamos considerar, primeiro, a unidade que corresponde ao sujeito.<br />
Veja os contrastes abaixo:<br />
(2) a. A irmã de Maria.<br />
b. * irmã a Maria de.<br />
c. *De Maria a irmã.<br />
Como pode ver, as palavras têm uma posição fixa no interior<br />
do sintagma que corresponde ao sujeito. O mesmo se observa quan-<br />
do a unidade é aquela que corresponde ao objeto:<br />
(3) a. Uma casa bastante nova.<br />
b. *Casa bastante uma nova.<br />
c. *Bastante uma casa nova.<br />
Esses contrastes servem para mostrar que os elementos que<br />
acompanham os núcleos, conforme a descrição tradicional, não são<br />
Função, na perspectiva<br />
formal, diz respeito às<br />
relações contraídas pelas<br />
palavras dentro da oração.<br />
Logo, a função sintática é<br />
resultante do contraste<br />
estabelecido entre os elementos.<br />
Segundo Borba<br />
(2005, p. 187-188), a sintaxe<br />
comporta três grandes<br />
tipos de função: solidariedade,<br />
seleção e combinação.<br />
“A solidariedade<br />
consiste na pressuposição<br />
ou interdependência entre<br />
os termos”. Por exemplo,<br />
quando um adjetivo concorda<br />
com o substantivo,<br />
pressupõe que o primeiro<br />
está sendo “solidário” com<br />
o segundo; portanto, os<br />
dois são interdependentes.<br />
“A seleção é uma relação<br />
unilateral entre uma<br />
constante e uma variável”.<br />
Por exemplo, um adjetivo<br />
pressupõe um substantivo;<br />
mas um substantivo<br />
não pressupõe um adjetivo.<br />
“A combinação é a<br />
conjunção de duas variáveis<br />
sem implicação<br />
mútua”. Por exemplo, um<br />
adjetivo ou um advérbio<br />
podem ser modificados<br />
por um advérbio, mas<br />
essa relação não é necessária,<br />
pois o adjetivo e o<br />
advérbio podem ocorrer<br />
sozinhos, sem a presença<br />
do modificador.<br />
147 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>