Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
Podemos testar a noção<br />
intuitiva de unidade/constituinte<br />
perguntando a<br />
qualquer falante de língua<br />
portuguesa se a sequência<br />
trabalho o existe. Provavelmente,<br />
ele dirá que não,<br />
pois sabe que o artigo precede<br />
o nome. Portanto, dirá<br />
que o trabalho, sim, existe.<br />
No entanto, a sequência<br />
trabalho o ocorre na sentença<br />
abaixo:<br />
Sem trabalho o dia custa<br />
muito a passar.<br />
Tal sequência não é percebida<br />
como unidade porque,<br />
de fato, não o é. O artigo<br />
forma unidade com o nome<br />
seguinte (dia) e não com o<br />
nome antecedente (trabalho).<br />
“Esse caráter intuitivo<br />
da divisão em constituinte<br />
é muito importante para a<br />
análise, e se relaciona com<br />
o fato de que cada um deles<br />
tem um significado coeso”<br />
(PERINI, 2006, p. 95).<br />
A organização e a constituição de uma sentença:<br />
começando a compreender “sintaxe” a partir de uma perspectiva formal<br />
de sons. Em princípio não se pode determinar sua<br />
extensão, uma vez que não é fácil prever qual<br />
número máximo de itens podem pertencer a ele.<br />
Por isso, em vez de procurar estabelecer a extensão<br />
de um constituinte, a sintaxe procura delimitá-lo a<br />
partir de um núcleo. Como o núcleo determina certas<br />
funções, sabemos que o constituinte compreende,<br />
além do próprio núcleo, o conjunto de itens que<br />
desempenham aquelas funções. Um constituinte<br />
sintático recebe o nome de sintagma.<br />
Portanto, formalmente, um constituinte recebe o nome de sintagma.<br />
Trata-se de uma unidade significativa dentro de uma sentença<br />
e que, juntamente com os outros elementos, mantém entre si<br />
relações de dependência e de ordem. Aprofundaremos sobre isso na<br />
próxima aula, quando lhe apresentaremos os tipos de sintagmas.<br />
A seguir, você verá algumas evidências que comprovam a<br />
existência da estrutura de constituintes.<br />
2.1 Evidências para a estrutura de constituintes<br />
Para comprovar o fato de que a sentença se estrutura a partir<br />
de constituintes, destacarei, aqui, alguns fenômenos, tais como: topicalização,<br />
clivagem, passivização, fragmentos de sentenças, pronominalização<br />
e elipse (cf. NEGRÃO et al. 2003, p. 90-92).<br />
2.1.1 Topicalização<br />
A topicalização, uma estratégia discursiva, consiste na colocação<br />
de um determinado constituinte na posição inicial da sentença.<br />
Para compreendê-la, veja, primeiro, a sentença em 6, e, depois,<br />
compare-a com as outras em 7:<br />
(6) Maria comprou o mais novo livro do Chomsky, na última<br />
semana, numa livraria virtual.<br />
(7) a. Maria, ela comprou o mais novo livro do Chomsky,<br />
na última semana, numa livraria virtual.<br />
b. Na última semana, Maria comprou o mais novo livro<br />
do Chomsky, numa livraria virtual.<br />
c. O mais novo livro do Chomsky, Maria comprou, na<br />
última semana, numa livraria virtual.<br />
d. Numa livraria virtual, na última semana, Maria comprou<br />
o mais novo livro do Chomsky.<br />
132 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>