Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
Saiba você que relação é uma<br />
propriedade fundamental na<br />
sintaxe. Veja o que diz Borba<br />
(2005, p. 181) a respeito:<br />
A sintaxe trata das relações<br />
que as unidades contraem<br />
no enunciado. Seu ponto<br />
de partida é, então, a combinatória<br />
de formas livres,<br />
que segue dois princípios<br />
fundamentais: a sucessão<br />
e a linearidade, ou seja,<br />
as unidades se sucedem<br />
umas após outras numa<br />
linha temporal. Por exemplo,<br />
se vejo crianças brincando<br />
num pátio, só posso<br />
expressar isso por meio<br />
de uma sucessão linear de<br />
unidades: vejo + crianças<br />
+ brincando + no + pátio.<br />
Ou seja, o que autor está destacando<br />
aqui é que há uma<br />
ordem estrutural prevista pela<br />
língua para a formação de uma<br />
sentença. Também, há uma<br />
ordem linear estabelecida para<br />
a combinação das palavras. E<br />
é dessa combinação que se resultam<br />
as relações entre unidades.<br />
A organização e a constituição de uma sentença:<br />
começando a compreender “sintaxe” a partir de uma perspectiva formal<br />
Como você pode observar aqui, na primeira linha, temos<br />
a unidade maior, a sentença completa. Na última linha, temos<br />
os itens lexicais, que só começam a formar unidades quando se<br />
juntam a outros itens, como você pode constatar nas linhas intermediárias<br />
do diagrama. Nessa etapa de organização, um único<br />
item lexical pode formar uma unidade, como no caso de Maria (o<br />
sujeito) e de gosta (o núcleo do predicado). Já quanto ao objeto<br />
do verbo, você deve observar que mais de um item lexical se<br />
agrupa para formar o constituinte maior: de empada de camarão.<br />
Conforme a teoria gerativa, é a nossa competência que<br />
nos permite organizar uma estrutura como a que mostramos no<br />
diagrama. É ela que determina, por exemplo, que de camarão,<br />
hierarquicamente numa posição inferior, não pode formar unidade<br />
com Maria, um constituinte hierarquicamente superior. É ela<br />
também que determina que de camarão forma unidade com o<br />
constituinte empada, mas desde que este último esteja na posição<br />
superior. Ou seja, há determinados itens que apresentam<br />
entre si uma relação intuitivamente mais próxima do que outros<br />
(CHOMSKY, 1975). É o caso do constituinte de camarão: ele tem<br />
uma relação direta com o constituinte empada, mas não tem relação<br />
alguma com Maria.<br />
A propósito dessa hierarquia, trata-se de uma propriedade<br />
muito importante na constituição e organização de uma sentença,<br />
pois, com ela, os constituintes se encaixam uns dentro dos<br />
outros, de tal forma que cada um tem o seu domínio específico.<br />
Para compreender melhor isso, considere, primeiro, as sentenças<br />
abaixo:<br />
(3) a. A casa de Maria é amarela.<br />
b. Maria comprou uma casa de porta amarela.<br />
Observe que, em 3a, “a casa de Maria” é um constituinte<br />
maior que contém “Maria”. O falante, por sua vez, sabe que é o<br />
constituinte maior que é o sujeito de “é amarela”, e não o constituinte<br />
menor “Maria”. Afinal, o falante sabe que o adjetivo “amarela”<br />
indica uma propriedade da casa e não de Maria. Portanto, a<br />
sequência “Maria é amarela” não é possível porque entendemos<br />
que a casa é de Maria; que essa casa é amarela; mas não entendemos<br />
que Maria é amarela. Esse tipo de raciocínio também se<br />
aplica à sentença em 3b: sabemos que Maria comprou uma casa<br />
que tem porta amarela; não é a casa que é amarela. Ou seja,<br />
entendemos que “amarela” forma unidade com “porta” e não com<br />
130 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>