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Letras Vernáculas - EAD - Uesc

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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />

Gramática Gerativa: fundamentos epistemológicos básicos<br />

mais objetivas do que aquelas que você conhece bem. Concorda?<br />

Quer mais evidências? Uma criança sabe quais são as propriedades<br />

gramaticais dos itens lexicais (palavras) que dominam, que<br />

fazem parte do seu dicionário mental. Por exemplo, ela sabe que<br />

palavras como “sofá”, “mesa” e “prato” são diferentes de palavras<br />

como “sujar”, “quebrar” e “cair”. Que estas podem ser ditas assim:<br />

sujou, quebrou e caiu. Já aquelas, não: *sofou; *mesou e *pratou.<br />

Ou seja, a criança sabe o que é um verbo e o que é um substantivo<br />

(ela não sabe dizer as categorias “Verbo” e “Substantivo”; ela aprenderá<br />

isso na escola). Sabe que um verbo faz parte de um conjunto<br />

de palavras que se combinam com um tipo particular de formas (afixos),<br />

como “ou”, “eu”, “iu”, “ei”... ao mesmo tempo, sabe que um<br />

substantivo faz parte de um outro conjunto de itens, que, por sua<br />

vez, se combinam com outras formas, como: “sofazinho”; “mesas”;<br />

“pratinhos”, “pratões”...<br />

Vamos a mais uma: a mesma criança que produziu as estruturas<br />

ilustradas em 5, acima, também afirmou, ao explicar a ideia de<br />

gênero, que o feminino de “cavalo” é cavala, que cangará é feminino<br />

de “canguru”, que boia é feminino de “boi”. Ora, se ela sabe, e confirma<br />

quando ouve do input, que o feminino se marca com o morfema<br />

–a (gata, pata, rata etc), logo, suas produções são lógicas. Está certa<br />

a criança, concorda?<br />

Agora que você já conhece algumas das evidências que provam<br />

a existência da “gramática internalizada”, vamos ver quais são<br />

os pressupostos do autor para explicar o que permite o desenvolvimento<br />

desse sistema mental.<br />

2.3 Competência X desempenho<br />

Para justificar a existência do sistema<br />

mental, Chomsky (1965) recorre à famosa<br />

dicotomia “competência X desempenho”.<br />

Competência corresponde ao conhecimento<br />

internalizado que o falante tem de<br />

sua língua. Essa competência linguística se<br />

manifesta a partir do desempenho (performance),<br />

isto é, a partir do uso concreto e<br />

particular que cada indivíduo faz da língua<br />

em diversas situações concretas de fala. A<br />

fim de ilustrar a primeira noção, considere<br />

os contrastes abaixo:<br />

Você se lembra da dicotomia langue e parole, de<br />

Saussure? “Competência”, concebida como o saber<br />

implícito, se aproxima do conceito de langue<br />

(conjunto de regras (fonológicas, morfológicas,<br />

sintáticas e semânticas) que determinam o emprego<br />

das formas na constituição das estruturas);<br />

porém, vale lembrar que aquele autor não<br />

enfatizou o “aspecto criador da língua”. Por sua<br />

vez, “desempenho” equivale ao conceito de parole,<br />

a manifestação individual e atualizada dos falantes.<br />

Assim como Saussure, Chomsky não procura<br />

dar conta do uso particular da língua; para<br />

este último autor, o que interessa é compreender<br />

a criatividade linguística do falante, considerada,<br />

inclusive, como “o principal aspecto caracterizador<br />

do comportamento lingüístico humano, aquilo<br />

que mais fundamentalmente distingue a linguagem<br />

humana dos sistemas de comunicação<br />

animal” (KENEDY, 2008, p. 128).<br />

99 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>

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