Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
Relembrando sobre o sujeito...<br />
A GT descreve que o sujeito pode ser<br />
simples (tem um só núcleo), composto<br />
(tem mais de um núcleo), oculto<br />
(que não está materialmente expresso<br />
na sentença, mas pode ser identificado),<br />
indeterminado (quando não<br />
há condições de determinar a quem o<br />
verbo está se referindo), e pode também<br />
ser inexistente (oração sem sujeito)<br />
(CUNHA; CINTRA, 1985).<br />
Uma proposta bastante interessante<br />
para explicar as relações dos elementos<br />
sintáticos que compõem as<br />
sentenças 1 e 2 é apresentada por<br />
Perini (2006). O autor estabelece as<br />
diferenças a partir de uma noção semântica:<br />
os papéis temáticos. Nessa<br />
perspectiva, dizemos que em 1 os<br />
sujeitos “João” e “Maria” têm o papel<br />
temático de agente, pois realmente<br />
praticam a ação. Essa mesma noção<br />
se aplica também ao sujeito “Pedro”<br />
em 2. Já os elementos “cachorro” e<br />
“irmão” têm o papel temático de paciente,<br />
pois eles sofrem o efeito de<br />
uma ação. A propósito desse papel, o<br />
autor destaca que ele pode ser tanto<br />
de um elemento que desempenha a<br />
função de objeto como de um que desempenha<br />
a função de sujeito, como<br />
ilustram os seguintes exemplos: “o<br />
capô do carro amassou”; “o copo quebrou”.<br />
Como você pode ver por esses<br />
exemplos, não há um agente expresso.<br />
Portanto, a presença dele não é<br />
necessária para que haja paciente.<br />
Para saber mais sobre essas noções<br />
apresentadas pelo autor, recomendo<br />
a leitura do capítulo 14, Funções semânticas,<br />
do seu livro Princípios de<br />
lingüística descritiva: introdução<br />
ao pensamento gramatical. São Paulo:<br />
Parábola Editorial, 2006.<br />
Sintaxe tradicional: problemas de ordem conceitual e estrutural - Parte I<br />
2 O SUJEITO GRAMATICAL E SUAS CONCEITUA-<br />
ÇÕES: PRESCRIÇÃO X PRÁTICA<br />
No que se refere às definições apresentadas pela<br />
gramática tradicional (GT), muitas delas são inconsistentes,<br />
não têm organização lógica e não dão conta dos fatos da língua.<br />
Para você entender isso, vamos abordar, nesta seção,<br />
sobre o sujeito gramatical. Para tanto, vamos começar com<br />
uma das definições mais conhecida:<br />
Sujeito é o ser que pratica ou sofre a ação.<br />
Diante dessa definição, vamos analisar os dois conjuntos<br />
de exemplos abaixo:<br />
(1) a. João correu no parque.<br />
b. Maria comeu o bolo de chocolate.<br />
(2) a. Pedro bateu no cachorro.<br />
b. Pedro machucou o irmão.<br />
Pela definição apresentada, certamente você não<br />
tem dificuldade para reconhecer que, em 1, os sujeitos são<br />
“João” (1a) e “Maria” (1b); afinal, ambos praticam ações<br />
específicas: correr e comer, respectivamente.<br />
Com relação aos exemplos de 2, surge uma dúvida:<br />
tanto o elemento que aparece antes do verbo (Pedro)<br />
quanto o que aparece depois (cachorro e irmão) podem ser<br />
identificados como sujeito. Por quê? Há, nessas frases, um<br />
elemento praticando e outro sofrendo a ação. Portanto, além<br />
de “Pedro”, poderíamos dizer que “o cachorro” (2a) e o “irmão”<br />
(2b) também podem desempenhar a função de sujeito,<br />
pois estão sofrendo o efeito de uma ação. Percebeu a<br />
incoerência?<br />
Já que a definição acima não é consistente, vamos,<br />
então, recorrer a uma outra:<br />
Sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração.<br />
Vamos aplicá-la aos dados abaixo:<br />
(3) a. Maria saiu da sala apressadamente.<br />
60 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>