02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 110<br />

110<br />

Alfred Métraux, eminente antropólogo que acabou coordenando o projeto da<br />

Unesco, atribui a escolha do Brasil à “boa impressão que, em geral, as relações<br />

raciais no Brasil deixaram, durante anos, em viajantes e sociólogos, surpresos em<br />

encontrar atitudes tão diferentes daquelas observadas em outras partes do mundo”.<br />

De fato, o Brasil tem sido aclamado como um dos raros países que alcançou<br />

“democracia racial”. Esse “raro exemplo de relações raciais harmoniosas” havia,<br />

até então, recebido pouca atenção, apesar de que situações em que diferen tes<br />

raças vivendo em harmonia poderiam exercer forte influência sobre questões ra -<br />

ciais em geral. 2<br />

A imagem otimista do Brasil como “democracia racial” tem uma longa e controvertida<br />

história. Constitui forte herança de uma longa tradição de estudos<br />

comparativos da escravidão no Brasil em contraste com os Estados Unidos, refor -<br />

çada nos anos 20 e 40 pelos trabalhos escritos por alguns proeminentes intelectuais<br />

brasileiros no contexto dos acalorados debates sobre a identidade do Brasil<br />

como nação. Com a abolição da escravatura e a proclamação da República, a presença<br />

africana e a ampla miscigenação no Brasil passaram a causar profundas<br />

apreensões entre as elites políticas e intelectuais a respeito da identidade nacional<br />

do país e seu status na comunidade internacional. 3 Por volta dos anos 30, um<br />

grupo de jovens cientistas sociais começou a redefinir a influência negra na cultu -<br />

ra brasileira e desenvolveu a imagem do Brasil como um paraíso racial no desejo<br />

de desafiar teorias anteriores catastróficas, segundo as quais a mistura racial<br />

condenava povos de diferentes raças à decadência física e moral. 4<br />

A escolha do Brasil pela Unesco como um laboratório privilegiado para inves -<br />

tigação da questão racial não era dada como certa. Na Unesco, alguns pensavam<br />

que deveria ser dada prioridade a situações de genuína hostilidade racial e, dentro<br />

do Brasil, temia-se que um cuidadoso exame das relações raciais pudesse abrir<br />

uma “caixa de surpresas”, afetando a imagem tão querida de muitos políticos e<br />

intelectuais. 5 Em casa de enforcado, não se fala de corda!<br />

O que Métraux conta esconde mais do que revela sobre as verdadeiras circuns -<br />

tâncias que induziram a Unesco a patrocinar a pesquisa sobre relações ra ciais no<br />

Brasil. Meu objetivo neste breve trabalho é o de resgatar a figura de Arthur Ramos,<br />

o quase esquecido antropólogo que desempenhou um papel central em colocar<br />

o Brasil na agenda da Unesco.<br />

No princípio, a visão e a agenda da Unesco estavam mais voltadas para o passado<br />

recente da guerra devastadora do que para o futuro. O objetivo era comba -<br />

ter tensões internacionais, promovendo o entendimento e a cooperação entre as<br />

nações para garantir a paz mundial. As forças aliadas haviam derrotado o fascismo,<br />

mas o mundo que emergia estava profundamente estremecido, moral e in-<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!