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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 86<br />

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e possibilitou as trocas, a coleta e a descrição das “coisas africanas” no Brasil –<br />

re pousam dispersos em várias instituições que abrigam o espólio intelectual de<br />

Arthur Ramos.<br />

Ramos incorporou pedaços de coleções familiares à sua, de maneira a formar<br />

um único acervo de objetos pessoais e etnográficos, posteriormente abrigados em<br />

arquivos e coleções bioprofissionais. Sua biblioteca foi dispersada entre as divisões<br />

de Obras Gerais e de Periódicos da <strong>Biblioteca</strong> Nacional e a <strong>Biblioteca</strong> Marina de<br />

Vasconcellos, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (antiga Faculdade<br />

Nacional de Filosofia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua Coleção<br />

de Documentos mantida pela Divisão de Manuscritos da <strong>Biblioteca</strong> Nacional,<br />

desenhos de crianças, cartas de suicidas, santinhos, poesias e cantigas já não cons -<br />

tituem souvenirs de um devotado colecionador. A inserção desses artefatos na<br />

coleção obedece a outras lógicas – cronológicas e qualitativas –, distinguindo-se<br />

do critério que parece ter orientado prática semelhante por parte do pai e irmão<br />

do antropólogo. Houve uma transmutação de valores, expectativas, projetos de<br />

ordenamento, reordenação e classificação de diferentes conjuntos de documentos<br />

agora subsumidos num único e autobiográfico conjunto. Inspirando-se nas<br />

análises de Michel Foucault e Michel de Certeau, Philippe Artières utiliza a expres -<br />

são “arquivos do eu” para qualificar práticas de coleta, arquivamento e classifica -<br />

ção marcadas por uma espécie de “intenção autobiográfica” (Artières, 1998: 11).<br />

“Um indivíduo bem ajustado deve classificar os seus papéis: deve, a qualquer momento,<br />

estar apto para apresentar um inventário deles: seu curriculum vitae. O<br />

que é um curriculum vitae senão um inventário dos nossos arquivos domésticos?<br />

(...) Num curriculum a lacuna é banida, é sinônimo de um vazio, de um período<br />

sem escrita. Devemos, portanto, manter os nossos arquivos com cuidado; não<br />

apenas não perder os nossos papéis, mas também provar que eles estão bem classificados.<br />

Eles devem revelar uma coerência condizente com a norma” (Artières,<br />

1998: 13). No caso de Ramos, é revelador percebermos como o esforço de produção<br />

de seu curriculum vitae, por volta de 1944 e 1945, imprime uma lógica<br />

classificatória singular à forma pela qual seus papéis estão dispostos na sua coleção.<br />

Mais importante do que a dimensão autobiográfica é a operação de contamina -<br />

ção simbólica que faz com que biografia e etnografia mantenham uma intensa,<br />

ainda que perturbadora, sintonia. Os objetos que Ramos amealhou ao longo de<br />

sua trajetória profissional expõem marcas – da experiência, do contato e das práticas<br />

de pesquisa/observação de campo. Tal como as práticas do kula, descritas por<br />

Malinowski, são a circulação e a utilização que têm conferido a esses objetos/do -<br />

cumentos significados e ordens de valor distintos. Ainda assim, sua preservação<br />

para um uso futuro sugere um projeto de consagração, sendo lentamente cons -<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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