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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 82<br />

82<br />

“Não é a poesia do rio que nos espera: é a bárbara e monumental sinfonia do óleo<br />

que nos penetra os sentidos, quando entramos pelo backyard da América (…) a<br />

mecanização agrícola está destruindo aos poucos a tradição do rio. O trem de ferro<br />

matou o steamboat (…) entrei numa dessas excursões e nada vi, além de um<br />

conjunto de swing, uísque com Coca-Cola e Seven Up (…) não ouvi as risadas<br />

de Huckberry Finn nem o barulho da banda de Giddeon. Old Man River! Onde<br />

estão os teus negros cantando nas plantações de Louisiana? (…) O velho negro<br />

Carey das plantações de St. Francisville e outros negros das old plantations ao<br />

norte de Baton Rouge – de Oakley a Live Oak me contam no seu quase ininteligível<br />

gumbo, a história das migrações que despovoaram o Mississípi. Perseguidos<br />

e maltratados, os negros vivem a vagar de um ponto a outro, à busca de melhores<br />

pousos. Eu vi as suas casinhas de madeira, desde a foz do rio, desde os pequenos<br />

aglomerados de pescadores até as little towns dos bayous da Louisiana. Nunca<br />

uma família está completa. Há sempre o rapaz que foi embora, a procura de<br />

melho res dias, longe, muito longe do velho mar.” 37<br />

Mas essas imagens literárias e cinematográficas estão longe de restringirem-se<br />

à América. Por meio de referências que aludem simultaneamente ao cenário da<br />

plantation no Sul americano e dos engenhos no Nordeste brasileiro, Ramos produz<br />

uma singular cartografia cujos pontos de inscrição aludem ao passado. Na<br />

apresentação de Introdução à antropologia brasileira – as culturas negras (1943),<br />

Renato de Mendonça observa que Ramos “procurou seguir os ensinamentos do<br />

método histórico-cultural, corrigindo assim os equívocos do método evolucionista<br />

puro e fugindo a todo ‘sociologismo romântico’ do negro” (1943:10). 38 Mais do<br />

que orientar um método, a história nos escritos de Ramos comporta um modo<br />

de se referir e um estilo de narrar diferenças sociais. As opções metodológicas de<br />

Ramos põem em relevo essa leitura, e seu arquivo as reorganiza, por meio de um<br />

enfoque personalizante: a história-cronologia da vida pessoal-profissional do autor<br />

dota de sentido e, tal como legendas, explica a presença de outros objetos ali<br />

contidos. Mas não é qualquer consciência histórica que povoa seus escritos e arquivo.<br />

É sobretudo uma história cujo desenho está irremediavelmente cerrado<br />

num passado distante, cuja memória é impossível. Cabe ao antropólogo explo -<br />

rá-lo. Ramos parece seduzido com uma incontrolável profusão de informações<br />

sobre “origens”, “transplantações”, “retenções” e resquícios da viagem-escravização.<br />

Em seu arquivo encontramos inúmeros documentos relacionados à escra -<br />

vidão, em grande parte, enviados ao autor por amigos influentes que trabalhavam<br />

em cartórios de diferentes cidades brasileiras. Cartas de alforria, cessão/doação<br />

de escravos e relatos de fuga juntam-se a “entrevistas” com ex-escravos e fotografias<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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