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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 66<br />

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que os documentos exumados do arquivo de Ramos sejam capazes de revelar o<br />

desconhecido ou comprovar versões prescritas da sua biografia. Minha leitura da<br />

coleção/arquivo de Ramos é tão seletiva quanto a lógica que, pretendo demons -<br />

trar, marcam seu projeto autobiográfico. Como observa Rousso, “existe um abismo<br />

entre aquilo que o autor de um documento pôde ou quis dizer, a realidade<br />

que esse documento exprime e a interpretação que os historiadores (mas também<br />

os antropólogos) que se sucederão em sua leitura farão mais tarde: é um<br />

abismo irremediável, que deve estar sempre presente na consciência, pois assinala<br />

a distância irredutível que nos separa do passado, essa ‘terra estrangeira’”<br />

(1996: 90).<br />

Ao trazer notas periféricas e inconclusas de Ramos para o centro da minha<br />

análise, estou ciente dos perigos de tornar demasiado presentistas minhas reflexões<br />

sobre as semelhanças que imagino guardarem com a fase inicial de sua<br />

carreira – ao longo da qual informantes distantes foram incorporados às suas análi -<br />

ses sobre religiosidade afro-brasileira. A heterogeneidade e a forma pela qual estas<br />

notas foram incluídas no arquivo do antropólogo me fazem hesitar diante de<br />

uma simples tarefa descritiva. Observando criticamente a lógica de seu arquivo<br />

e a forma pela qual essas experiências foram convertidas em documento e artefato,<br />

me parece mais oportuno refletir sobre a tarefa do Ramos-arquivista-cole -<br />

cio nador – ou daqueles que se ocuparam de sua organização após a morte do<br />

antropó logo. Certamente, há diferenças tanto nas formas de inscrição, descrição<br />

e trans crição desses textos, como nas lógicas que permitiram sua inclusão na<br />

coleção/arquivo do autor. Enquanto as várias estratégias de produção de texto<br />

empregadas irão determinar de que forma falas, gestos e silêncios foram traduzidos<br />

e interpretados em “notas de campo” e etnografia, as lógicas de inclusão no<br />

arquivo irão orientar e condicionar futuras leituras em torno de corpos discretos<br />

de conhecimento. 14 Observando o material depositado no arquivo de Ramos à<br />

luz de um repertório de discussões mais amplas e que dizem respeito não só ao<br />

uso de cartas, fragmentos de textos e papéis mantidos em arquivos pertencentes<br />

a antropólogos, mas à reflexão sobre seus contextos de produção e arranjo, meu<br />

propósito é focalizar pontos específicos de alguns deslocamentos na trajetória de<br />

Ramos (Lederman, 1990; Trouillot, 1995; Des Chenes, 1997). Meu objetivo é<br />

compreender o lugar da viagem e da pesquisa de campo nas experiências de<br />

Ramos, bem como a relação estabelecida entre ambas – seja como modalidades<br />

singulares de produção de um certo conhecimento antropológico, seja como marcas<br />

de um processo de conversão intelectual capaz de reconfigurar a trajetória<br />

profissional do autor. 15 Não só a experiência etnográfica que iniciou já no <strong>final</strong><br />

de sua vida –, inventando um campo de observação através de redes de infor-<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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