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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 81<br />

Esse medo produziu estranhas alianças, ao menos no plano do discurso. Liberais<br />

e representantes do governo norte-americano e partidos e intelectuais de esquerda<br />

no Brasil espantavam-se diante da propaganda danosa que a organização<br />

de milícias nacionalistas ou organizadas “sob o ponto de vista da raça” produziam<br />

no país. Em 1943, em artigo chamado Hitler contra Zumbi, Jorge Amado,<br />

referindo-se a um suposto plano de Hitler contra negros na África do Sul e na<br />

América do Sul, citava as preocupações de Arthur Ramos no sentido de chamar<br />

atenção para o florescimento de idéias “fora de lugar”: “Foi necessário que medrasse<br />

aqui a semente no capim-verde do integralismo, para que os preconceitos raciais<br />

viessem à tona num país como o nosso de forte miscigenação.”<br />

É interessante notar que, para Ramos, as experiências de militância antifascista<br />

no Brasil não pareciam credenciais para que análises sobre a guerra e a expansão<br />

do racismo fossem, em outros contextos, explicitadas da mesma forma. Embora<br />

acreditasse que a antropologia devesse ser utilizada como instrumento da prega -<br />

ção de “valores democráticos”, o analista que dela fazia uso deveria confrontar-se<br />

com os fantasmas do etnocentrismo. Refletindo sobre suas experiências em movimentos<br />

similares patrocinados nos EUA por intelectuais, políticos e industriais<br />

liberais, Ramos parecia enxergar limites numa ação integrada:<br />

“Agora que me encontro no tempo e no espaço das discussões em que tomei parte,<br />

verifico como é possível extirpar aquele defeito de atitude que os antropólogos<br />

chamam de ‘etnocentrismo’, como é difícil deixar de querer impor aos ou -<br />

tros os conceitos que nos acostumamos a julgar como sendo os melhores. Não<br />

podemos discutir os problemas da futura paz, sem antes destruir o que estava erra -<br />

do neste velho mundo, sem destruir as coisas más que levam os homens à guerra,<br />

sem entrar na guerra para destruir a guerra” (Ramos apud Gusmão 1974: 55).<br />

TERRA ESTRANGEIRA: VIAGEM E NOSTALGIA<br />

81<br />

As notas de viagens de Ramos por terras norte-americanas não estão isentas de<br />

decepção e, de certa maneira, do que Renato Rosaldo ironicamente chamou<br />

de “nostalgia imperialista” (1989). Isso porque algumas imagens povoam seus<br />

escritos com notável insistência. Ramos se vê decepcionado em não encontrar<br />

os steamboats dos livros de Mark Twain às margens do Mississípi. O advento<br />

do trem estava sepultando a tradição. A bordo de um teatro flutuante estili -<br />

zado, a decepção aumentaria e imagens coloniais vinham colorir, sem cessar,<br />

suas impressões:<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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