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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 77<br />

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mentada na constante atenção às suas marcas mais indeléveis – estão por toda<br />

parte. É que a viagem à América – sob a forma de um projeto em constante ela -<br />

bo ração – começara antes. Nas cartas enviadas, nas referências comparativas de<br />

seus artigos a temas como “escravidão” e “raça” nos Estados Unidos e no Brasil,<br />

e na sua atitude favorável a uma política de “intercâmbio cultural” que projetava<br />

o império para as bordas de seus velhos, mas reconsiderados, súditos, desde<br />

meados dos anos 1930. A viagem, chegada, recepção, e passagem de Ramos por<br />

várias cidades norte-americanas foram singularmente descritas. Do porto do Rio<br />

de Janeiro, o navio que levara Ramos e d. Luísa aos Estados Unidos chegaria a<br />

New Orleans no <strong>final</strong> do ano de 1940. A partir de então, Ramos parece ter vestido<br />

a “ jaqueta de antropólogo” (McClintock, 1995), passando a observar e a escre -<br />

ver sobre o que via. Ramos inicia as primeiras observações e descrições sobre sua<br />

viagem. Mas, ao contrário de Lévi-Strauss, que em Tristes trópicos (1955; 1996),<br />

retomara suas notas de bordo para explicar e dar sentido ao seu sentimento de<br />

exílio, decepção e fadiga da civilização, Ramos deixou marcas, sinais triunfais<br />

dessa transposição de fronteiras políticas e culturais tão importantes para a atividade<br />

que desempenhava num mundo ameaçado pela guerra. Ao contrário do<br />

antropólogo francês, para o qual a alusão ao “Velho Mundo” pode ser vista como<br />

um recurso estilístico de forma a produzir uma mediação e preparação do leitor<br />

para um cenário cultural radicalmente diverso, as menções que Ramos faria ao<br />

que ficou para trás – o Brasil e os brasileiros – acompanhariam todas as referências<br />

e observações que fez, sob a forma de notas e cartas, de sua viagem.<br />

A partir de agosto de 1940, a coluna Movimento Cultural, escrita por Ramos<br />

para o jornal Diretrizes –, editado pelo jornalista Samuel Wainer –, passa a ser o<br />

espaço de divulgação de sua “correspondência” – nas palavras dos editores, “uma<br />

correspondência especial sobre assuntos culturais e sobre aspectos sociais da vida<br />

norte-americana”. 28 Mas as primeiras impressões sobre a viagem, Ramos as escre -<br />

ve do Delmondo, que compara a uma “universidade em trânsito”: cheio de white<br />

middle class, estudantes dos colleges americanos e professoras de high schools que<br />

o enchem de perguntas sobre o Brasil. Ramos parece exultar de sua condição ímpar:<br />

um professor brasileiro rumo à civilização. O último dia no Brasil, a convi -<br />

te de Diégues Júnior, é na pacata Vitória de 1940. De forma nostálgica avista<br />

“gente metida em roupa branca de linho engomado”, namoro de portão, conver -<br />

sa na farmácia, procissão, bilhares cheios e matinês de cinema. De volta ao navio,<br />

apelidado de “antecâmara da América”, personagens mais cosmopolitas invertem<br />

a cena. A figura de um missionário que conhece toda a literatura cristã que vai<br />

de “Maritain a Tristão de Ataíde” o instiga a iniciar de pronto suas observações<br />

sobre a gente de uma terra na qual ainda não aportara. Longe do Brasil e perto<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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