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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 88<br />

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atenção ou na abordagem metodológica empregada nesses estudos (Costa Pinto,<br />

1951; Shaden, 1951; Baldus et al., 1950; Bastide, 1951).<br />

Se a conversão do médico em antropólogo foi de fato relevante para os desdo -<br />

bramentos que as pesquisas sobre essa temática tiveram no interior da disciplina,<br />

é difícil dimensionar. Essa dificuldade está diretamente ligada ao lugar conferido<br />

a Ramos nas análises históricas sobre a disciplina. Apesar de ter investido na<br />

institucionalização da antropologia no Brasil e a despeito de ter-se manifestado<br />

publicamente contra a perspectiva racialista de uma primeira geração de antropólo -<br />

gos, sua imagem, trajetória e carreira ficariam para sempre marcadas pela sua fi -<br />

lia ção e reverência às idéias do médico Raimundo Nina Rodrigues (Baldus et al.,<br />

1950; Corrêa, 1998; Duarte, 1997; Stolcke, 1998). Arthur Ramos foi banido do<br />

panteão de autores que marcam a recente história da disciplina no país como um<br />

dos principais representantes da sua part maudite. Seus livros, artigos e idéias vira -<br />

ram um exemplo não do que devemos ler para conhecer e perceber criticamente<br />

o surgimento da antropologia no país, mas do que devemos esquecer para inven -<br />

tarmos uma particular narrativa histórica acerca dos seus precursores, instituições<br />

e envolvimentos. A lenta mas perceptível conversão de Ramos a um ingênuo,<br />

mas historicamente relevante, culturalismo mostrou-se incapaz de redimi-lo da<br />

pecha de um médico travestido de antropólogo. 44 Nas muitas histórias da nossa<br />

curta tradição disciplinar, outros médicos transformados em antropólogos foram<br />

protegidos de tal banimento. Certamente, respostas para essas indagações devem<br />

ser fruto de outras reflexões e, entre elas, análises que se dediquem a pensar sobre<br />

os desdobramentos que a disciplina teve no país, no <strong>final</strong> dos anos 1940 e<br />

início dos 50.<br />

Como mostraram George W. Stocking (1982; 1983a; 1983b), James Clifford<br />

(1986; 1994) e Verena Stolcke (1992) – em textos devotados a discussões distin -<br />

tas –, a escolha de “pais fundadores”, “iniciadores”, “precursores”, em projetos de<br />

his tória da antropologia em vários contextos, tem sido objeto de embates que<br />

não se restringem à discussão interna relativa aos limites da disciplina, mas incluem<br />

a imagem que os antropólogos querem projetar de si próprios dentro de<br />

uma narrativa histórica. Em vez de redimi-lo dessa posição subalterna e inexpres -<br />

siva, análises sobre essas questões nos permitiriam ter um quadro muito mais<br />

complexo e interessante sobre as políticas de sacralização no campo intelectual,<br />

onde a historicidade de narrativas em torno de idéias de poder e influência apareceriam<br />

conectadas aos seus contextos de enunciação e circulação.<br />

As preocupações de Arthur Ramos em torno da institucionalização de uma<br />

antropologia brasileira já no início dos anos 1940 foi, em grande parte, resultado<br />

de uma perspectiva “aplicada” da disciplina, esboçada nos seus escritos de via -<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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