02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 119<br />

Apesar de sua lúcida condenação da Europa por haver infligido a “raça” no<br />

continente como um problema ideológico-político praticamente desde o surgir<br />

da colonização, Ramos não reconhecia tampouco que a miscigenação era, com<br />

efeito, a expressão sexual da dominação colonial. No esforço de opor-se à teoria<br />

disgênica da “mistura racial”, Ramos e outros como ele não queriam nem po -<br />

diam admitir que “miscigenação”, longe de traduzir ausência de preconceito, era<br />

freqüentemente o produto da libertinagem sexual do homem branco com rela -<br />

ção a mulheres negras, às quais desdenhavam para o casamento.<br />

Finalmente, nem Ramos nem nenhum de seus contemporâneos, independentemente<br />

de estatura intelectual, jamais contemplaram o estabelecimento em seu país<br />

de uma sociedade culturalmente pluralista. Embora buscassem criar uma identidade<br />

nacional própria, no fundo seus conceitos de construção de nação e de identida de<br />

nacional eram, não obstante, herança de modelos políticos, filosofias e con textos de<br />

conhecimento europeus. Quando, uma vez independentes, as repúblicas latinoamericanas<br />

adotaram o modelo político que por excelência personalizava a república<br />

universalista francesa, o fizeram de maneira exaustiva. A forma do estado era reconhecidamente<br />

um artifício histó -<br />

rico, mas ao longo do século XIX a<br />

nação-es tado liberal européia veio<br />

a ser conceituada como a expressão<br />

po lítica de um corpo po lítico orgânico,<br />

racialmen te e/ou culturalmente<br />

ho mo gêneo. Foi essa concepção orgâ -<br />

ni ca da nação-estado que originou e<br />

magnificou as difi culda des de cons -<br />

trução da na ção em países onde a po -<br />

pu lação era per cebida como sendo de<br />

origens raciais e cultu rais muito distin -<br />

tas. Incapaz de esca par às suas origens<br />

européias, a elite cultural latino-ame -<br />

ri cana, em suas delongadas contro -<br />

vér sias sobre iden ti da de nacional,<br />

refletia, como um espe lho, uma ima -<br />

gem aumentada das contradições<br />

entre a noção liberal voluntarista do<br />

esta do e a idéia orgânica de nação que<br />

afetou o estado-nação liberal europeu<br />

desde seu nascimento. 42<br />

119<br />

“É necessário conhecer o negro para conhecermos<br />

a nós mesmos como nação.” (Arthur Ra -<br />

mos): ilustração do livro Introdução à antro pologia<br />

brasileira [S. L.], 1947.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!