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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 114<br />

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convidou o grupo de especialistas em antropologia física e ciências sociais e quem<br />

esboçou a agenda inicial. 16 A segunda iniciativa foi propor que a Unesco patro -<br />

cinasse investigações sobre exemplos concretos de relações raciais, especialmente<br />

o “estudo de condições sob as quais vários grupos raciais possam colaborar pacificamente<br />

no seio de uma determinada comunidade”. 17<br />

Mas Arthur Ramos morreu inesperadamente em seu hotel em Paris, na noite<br />

de sábado para domingo, dia 31 de outubro, com apenas 46 anos de idade. Um<br />

artigo póstumo reafirmava sua antiga convicção de que o “‘racialismo” resulta,<br />

em última instância, de “métodos de dominação”. 18<br />

Hoje em dia, as contribuições científicas e políticas de Ramos estão pratica men -<br />

te esquecidas e suas realizações na Unesco são desconhecidas. 19 Em parte isso se deve<br />

à sua morte prematura e à disputa pessoal e intel-ectual entre Arthur Ramos e Gilberto<br />

Freyre a respeito da precedência regional e intelectual no renascimento dos estudos<br />

sobre o negro nos anos 30. 20 O charme sedutor e atraente do retrato romântico, lírico<br />

e quase erótico pintado por Frey-re da sociedade agrária, patriarcal e tolerante de<br />

Pernambuco, que ele depois generalizou para o Brasil, sem dúvida ofuscou e depois<br />

eclipsou a descrição seca, acadêmica e muitas vezes repeti tiva que Ramos fez do “mosaico<br />

histórico” de povos no Brasil. Mas as importantes divergências políticas na<br />

maneira em que os dois intelec tuais descreviam a singular situação racial do Brasil<br />

tam-bém desempenharam um papel na indica ção de Ramos para o projeto da Unesco,<br />

assim como em seu posterior esquecimento.<br />

Durante a intensa renovação de estudos sobre o negro, nos anos 30, os inte -<br />

lectuais brasileiros tinham em mente, sobretudo, a questão nacional. O paradig -<br />

ma da harmonia racial brasileira ganhou destaque entre os intelectuais brasileiros<br />

na medida em que eles tentavam superar a consternação e encontrar uma solução<br />

para o mal resolvido problema da identidade nacional, que se devia, segundo<br />

Antonio Candido, “a uma ambigüidade fundamental: ser um país latino, de he ran -<br />

ça cultural européia, mas etnicamente mestiço, situado nos trópicos, influen ciado<br />

por culturas primitivas, ameríndias e africanas”, 21 uma ansiedade compartilhada<br />

com muitos outros pensadores latino-americanos. Freyre e Ramos, quase simultaneamente,<br />

começaram a reverter o retrato negativo da cultura brasileira de misturas,<br />

dissipando o complexo nacional de inferioridade, nascido da formação<br />

“bastarda” do país, por meio da exaltação das excelências de sua diversidade cultural<br />

e racial, qualificando a miscigenação como fator de indução e sintoma de<br />

uma identidade nacional brasileira singularmente harmoniosa. Realmente, a<br />

questão “raça”, observou Bastide, sempre provoca a resposta “sexo”. Mas, “se mis -<br />

ci genação tomasse a forma de casamento, e assim, em condições de res-peito mútuo<br />

e igualdade entre os sexos, estaria então demonstrada uma efetiva ausência<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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