02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 115<br />

115<br />

de preconceito racial. Mas, da maneira como é praticada, na verdade reduz uma<br />

raça inteira à condição de prostituta”. 22 Ramos e Freyre coincidiam a respeito da<br />

singular harmonia racial brasileira, embora seus métodos de pesquisa e estilo fos -<br />

sem diferentes. E nenhum deles jamais reconheceu essa distinção sociológica fundamental.<br />

Os dois divergiam radicalmente, no entanto, a respeito das causas dessa<br />

situação racial única no Brasil.<br />

Ramos estudou medicina e se considerava o herdeiro revisionista da Escola<br />

Nina Rodrigues de medicina legal, embora explicitamente se dissociasse da sua<br />

tese psicobiológica da inferioridade racial do negro e dos efeitos patológicos da<br />

miscigenação. A abordagem inicial de Ramos no campo das ciências médicas<br />

havia sido a psiquiatria. Por volta dos anos 1940, ele havia deixado para trás a<br />

noção de mentalidade primitiva e a psicanálise de Lévy-Bruhl, pelas quais havia<br />

sido atraído antes. 23 No início, Ramos tinha um vivo interesse em cultura afrobrasileira,<br />

mas aos poucos mudou seu foco de atenção para a dinâmica do conta to<br />

racial-cultural. Como ele escreveu em 1937, o negro, em vez de ser um ele men to<br />

estrangeiro, formava parte integral do país. “No Brasil, em Cuba, no Haiti, nas ou -<br />

tras Antilhas... culturas negras combinavam com os padrões de cultura branca em<br />

um mosaico histórico, onde muitas vezes é difícil reconhecer os elementos ori -<br />

gi nais.” 24 A tarefa primária era, portanto, examinar os processos que haviam de -<br />

sen cadeado esse “mosaico histórico” cientificamente e avaliar suas conseqüências<br />

sociopolíticas para o país.<br />

O surgimento do nazismo e da ciência racial nazista na Alemanha exerceram<br />

logo um forte impacto sobre os intelectuais brasileiros que estudavam as influências<br />

africanas sobre a identidade e cultura brasileiras. Já em 1935, e muito antes de que<br />

cientistas nos Estados Unidos e na Europa conseguissem apresentar uma condenação<br />

da ciência racial nazista, um grupo de intelectuais brasileiros emitiu um<br />

Manifesto de Intelectuais Brasileiros contra o Preconceito Racial, denunciando a<br />

ameaça que representava a ciência racial nazista para o Brasil, tendo em vista sua<br />

“diversidade” étnica e por “comprometer a coesão social”, ao disseminar o pre -<br />

concei to racial. Ramos e Freyre, entre outros, assinaram a declaração. 25<br />

A ciência racial nazista teve uma inegável influência sobre Ramos em sua abordagem<br />

da questão racial no Brasil. Tão logo estourou a guerra, ele se tornou um<br />

ativo militante antinazista, condenando publicamente em conferências, entrevis<br />

tas e artigos os perigos e falácias da ciência racial. 26 Naqueles perturbados tempos,<br />

Ramos sentia, mais do que nunca, que seu “Paideuma” era mais atlânticoocidental-meridional.<br />

Como escreveu ele, entusiasticamente: “Somos felizes<br />

porque nosso destino é suave, nossa natureza não tem vulcões, nossa história é<br />

uma página aberta de tolerância. Nossa cultura é, portanto, uma cultura ‘apolínea’,<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!