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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 67<br />

mantes-porteiros, faxineiros, lavadeiras e seus conhecidos no Leme, e suas pe -<br />

rambulações em terreiros e sessões espíritas em Belford Roxo, Acari e Abolição –,<br />

mas também a sua tentativa de transformar certas viagens em situações de obser -<br />

vação especializada serão focos da minha atenção.<br />

CARTOGRAFIAS E VIAJANTES MODERNOS<br />

67<br />

Como salientou Mary Louise Pratt, parte substancial das narrativas de viagem<br />

descreve encontros e, inevitavelmente, põe em evidência zonas de contato, nas<br />

quais os viajantes que observam – culturas, povos e histórias – têm sua subjeti -<br />

vidade em relevo cada vez que definem, traduzem e classificam o outro (1992:<br />

7). É recente a literatura que tematiza diferentes modalidades de narrativas de<br />

viagem experimentadas por exploradores, aventureiros, administradores, jorna -<br />

listas e escritores ao longo do século XX, quando a figura do antropólogo representando<br />

uma categoria especial de viajante ganhou um lugar de proeminência.<br />

Ainda assim, como muitos autores têm chamado atenção, as etnografias conti -<br />

nuam a manter uma forte afinidade e semelhança estilística com as narrativas de<br />

viagem (Fabian, 1983; Scott, 1989; Clifford, 1989; 1992; Pratt, 1992). Muitas<br />

experiências etnográficas produzidas nas primeiras décadas do século XX estiveram<br />

marcadas pela presunção de que tais viajantes – os antropólogos – eram<br />

dotados de dons especiais que os tornavam capazes de transpor fronteiras temporais<br />

e espaciais, bem como conhecer, descrever e interpretar aquilo que o olhar<br />

não iniciado enxergaria apenas como exótico e diverso (Rosaldo, 1986; Clifford<br />

& Marcus, 1986). As atividades desempenhadas pelos antropólogos, todavia, têm<br />

implicações que ultrapassam formas de deslocamento simplesmente espaciais. A<br />

etnografia – gênero particular de relato e escrita destinado a documentar formas<br />

de conhecimento resultantes de distintas experiências envolvendo encontros, contatos<br />

e formas de observação – não consistiu em virtude de um viajante oniscien -<br />

te, ou mesmo, nas palavras de Sérgio Cardoso, não se resumiu a uma suposta<br />

“ingenuidade do vidente” (1988: 349). Ao tratar a viagem – e sobretudo aquelas<br />

de caráter etnográfico – como sendo uma forma singular de “deslocamento”,<br />

Lévi-Strauss imaginou um percurso entrecortado por diferentes tipos de relações,<br />

vínculos e formas de comprometimento. “Em geral”, argumenta, “conhecemos<br />

as viagens como um deslocamento no espaço. É pouco. Uma viagem inscreve-se<br />

simultaneamente no espaço, no tempo e na hierarquia social. Cada impressão só<br />

é definível se a relacionarmos de modo solidário com esses três eixos, e, como o<br />

espaço possui sozinho três dimensões, precisaríamos de pelo menos cinco para<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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