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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 60<br />

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é Mulatinha), (a pessoa) estava completamente boa. Tudo isso impressionou muito<br />

Eulina que lavou os braços, os rostos e as mãos, logo que entrou em nossa casa,<br />

no tanque, e ia dizendo afobada: ‘Não gosto disso, não gosto de ver essas coisas,<br />

cruz!’ Guilhermina ficou também quieta e impressionada. E (diante de) uma su -<br />

ges tão minha que talvez não fosse uma legítima ‘queda no santo’, informou que<br />

seu Bertoldo (o antigo pai-de-santo conhecido dela), quando queria saber no<br />

Terreiro que ele dirigia se uma pessoa estava realmente com o santo, batia-lhe<br />

com uma vara de pinhão roxo. Se a pessoa gritava, a queda no santo era falsa.” 2<br />

É possível que Arthur Ramos tenha lançado mão de suas técnicas psicanalíticas<br />

para testar a veracidade do temor que sua lavadeira Eulina dizia sentir, ao ver cenas<br />

como aquelas num bonde carioca. Na interpretação de alguns dos autores que<br />

o haviam influenciado em sua formação em psiquiatria e medicina legal durante<br />

os anos 20 e 30, a queda do santo ou a possessão era um fenômeno expli cável<br />

através das noções de sugestão e imitação. Talvez por isso, um estilo anamné sico<br />

perpassa grande parte dessas notas. Não há qualquer mediação – sob a forma de<br />

dú vida, hesitação ou perplexidade – entre o antropólogo e sua informantelavadeira<br />

Eulina: é o primeiro que observa, indaga e transcreve o que lhe foi rela -<br />

tado, lembrado e sugerido. Em outras notas, seu tom reticente sugere poucas<br />

certezas. Suas anotações sobre a cozinheira Guilhermina, por exemplo, estão<br />

povoadas de dúvidas. Nelas, as interpretações oferecidas para o que o próprio<br />

Ramos denominara sincretismo afro-brasileiro, parecem desestabilizar quadros<br />

anteriores, alimentados com informações semelhantes às que aparecem na epígrafe.<br />

A amedrontada Guilhermina também andava freqüentando a casa de uma<br />

vidente nada ortodoxa: d. Zilá. Nas notas de Ramos, percebe-se seu interesse em<br />

perscrutar um campo de significados situado além das fronteiras dos cultos afrobrasileiros.<br />

3<br />

“Jorgina Guilhermina. Minha empregada, preta, católica, nascida e criada numa<br />

fazenda de Belford Roxo informa que não conhece outro nome para N. S. da<br />

Penha. A família dela, tios, primas, mora(m) em Belford Roxo e todos os anos há<br />

muito tempo vão à festa da Penha. Gostava(m) de ver as mulheres sambar mas<br />

já não o fazem mais, por ordem da polícia. Informa que o domingo de novembro<br />

é dos barraqueiros, família não vai; e é só para homens – os barraqueiros, e<br />

mulher, só as que não se importam com certas coisas. Informa que S. Jorge é<br />

Ogum, S. Sebastião é Oxóssi e N. S. da Conceição é Oxum etc. Para curar a úlce -<br />

ra de que se operou, correu tudo que foi sessão espírita e viu que o pessoal espí -<br />

rita fala mal dos da macumba. Às vezes misturam tudo, as linhas etc.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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