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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 118<br />

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Ramos para proferir a palestra inaugural em um curso de etnografia do negro no<br />

Brasil, no Departamento de Cultura do Estado de São Paulo, organizado por<br />

M. me Lévi-Strauss. Nessa ocasião, Ramos concebeu a idéia de seu livro As culturas<br />

negras no Novo Mundo. 38<br />

Por volta dos anos 40, Ramos era um nacionalista cultural liberal. Seu nacio -<br />

nalismo cultural não era, como se tem argumentado recentemente, uma velada<br />

racialização da cultura. 39 Seu conceito de nacionalismo cultural prescindia do determinismo<br />

hereditário e da transmissão da cultura, mas tomava, ao contrário,<br />

culturas distintas, internamente homogêneas, capazes de misturar-se, como so -<br />

lu ção conciliadora, como demonstrava o processo simultâneo de “deseuropei za ção”<br />

e “desafricanização”, que o Brasil, como nação, demonstrava. 40 Mis cige nação,<br />

tanto biológica quanto cultural, ocupava, é claro, um lugar central na teoria de<br />

Ramos, à semelhança da de outros advogados da harmonia racial. A idéia de miscigenação,<br />

na verdade, pressupõe a prévia existência de populações distintas, liga -<br />

das entre si. Ao <strong>final</strong> dos anos 30, Ramos concebia essas populações em termos<br />

culturais e considerava o fenótipo como uma marca diacrítica útil para identificar<br />

traços culturais em vez de determinar culturas. As razões que tornam<br />

problemática a teoria do nacionalismo cultural de Ramos se encontram em<br />

outras partes.<br />

Uma ironia permeia os debates sobre cultura e identidade nacional no Brasil<br />

e em outros países da América Latina. A aguada apreensão que a diversidade<br />

“racial-cultural” de seus países provocava entre intelectuais latino-americanos<br />

como um problema nacional era, a<strong>final</strong> de contas, um produto europeu. Como<br />

escreveu Ramos em 1942: “A<strong>final</strong>, o racismo é a última fase de um longo processo<br />

de europeização do mundo, que agora está chegando a seu ponto crítico. A<br />

conquista européia do mundo trouxe consigo toda uma série de mecanismos de<br />

dominação de uns povos por outros, de dominações políticas e econômicas que<br />

foram racionalizadas por teorias e ideologias de raças fracas e superiores. A idéia<br />

do ‘negro bárbaro’ na África foi uma invenção dos europeus para ajudar seus projetos<br />

de dominação. Todos esses processos e técnicas de dominação, juntamente<br />

com suas ideologias e racionalizações, precisam ser conhecidos. Tudo isso é indispensável<br />

para um entendimento do fenômeno do racismo. A guerra atual deve<br />

ser vista principalmente sob esse aspecto das relações raciais.” 41 A condenação<br />

feita sem reservas por Ramos da escravidão continha as sementes para uma revisão<br />

radical da teoria da harmonia racial. Ele nunca deu esse passo crítico, mas<br />

seu veredicto negativo do passado escravagista é certamente uma razão pela qual<br />

seu trabalho foi esquecido, em contraste com a persistente popularidade e contínua<br />

reavivação do quadro idílico e pacífico do Brasil pintado por Freyre.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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