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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 19<br />

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so, por exemplo), mas também freqüentemente indiferentes – devido em boa<br />

parte à forte autonomização atingida pelo campo acadêmico-universitário (onde<br />

se encontram os antropólogos e alguns psicanalistas) e profissional-psicotera -<br />

pêutico (onde se encontram os psicanalistas). Não poderei desenvolver – mas não<br />

posso, tampouco, deixar de evocar – a relação entre os dois “regimes” em análise<br />

e os “regimes políticos” sob os quais se desenvolveram. O primeiro é marcado<br />

pela Revolução de 1930, que é vista por boa parte dos intelectuais brasileiros<br />

como uma oportunidade de levar adiante as expectativas de “civilização” dirigida<br />

que se acumulavam desde o fim do Império, frustradas pela consolidação<br />

conser vadora da República Velha. 19 A vinda de Arthur Ramos para a capital logo<br />

após a revolução e sua rápida incorporação ao aparelho de Estado como agente<br />

da educação pública são expressivas das condições dessa primeira fase. O advento<br />

do Estado Novo corresponde certamente ao desencanto de uma boa fração<br />

dos portadores daquelas esperanças e corresponde – talvez não linearmente – ao<br />

momento de entrada dos nossos dois atores privilegiados no sistema universitário<br />

que acabava de se autonomizar. O período seguinte é marcado pelas inquietações<br />

da II Guerra, num contexto nacional politicamente ambíguo, que se encerra com<br />

a deposição, retorno e morte de Getúlio Vargas às voltas de 1950. Arthur Ramos<br />

se destacou no período da guerra como o autor de mais de um manifesto público<br />

e coletivo contra o racismo, o que lhe valeu provavelmente um lugar de destaque<br />

no contexto do pós-guerra (inclusive a oferta do cargo na Unesco, em cujo desempenho<br />

faleceu em Paris).<br />

O segundo regime emerge em plena vigência da ditadura militar instalada em<br />

1964 (após o interregno democrático e “desenvolvimentista” dos anos 1950). Sua<br />

ênfase em valores associáveis aos ideais da liberdade e sua indisposição em participar<br />

diretamente do aparelho de Estado podem ser correlacionadas assim<br />

também – mesmo que não linearmente – ao amplo movimento intelectual de<br />

resistência ao governo autoritário (que só se encerra na primeira metade dos<br />

anos 1980).<br />

É contra esse pano de fundo que se recortam o interesse e a novidade da contribuição<br />

de Arthur Ramos. Como disse, ela se localiza sobretudo no plano da<br />

ext ensão de uma leitura psicologizada da experiência humana ao universo das<br />

manifestações culturais coletivas, sobretudo as “religiosas” e as “populares”. Sua<br />

primeira experiência nesse sentido foi uma interpretação psicológica do carnaval,<br />

publicada quando ainda estava no Nordeste, antes mesmo de ter ido para Salvador.<br />

Foi o primeiro testemunho de uma possibilidade de interpretação da cultura<br />

brasileira com instrumentos da psicanálise a que Arthur Ramos se continuou<br />

dedicando por toda sua vida e que serviu como ponte principal de suas relações<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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