miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...
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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 133<br />
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in fluência do culturalismo em sua vida. Ramos era um autodidata, que ainda<br />
não tinha entrado em contato com os intelectuais maiores da antropologia, trocado<br />
correspondência, o que a gente vai ver a partir de 1938, com todos eles. Es tão<br />
aqui Roger Bastide, Pierson e tantos outros. Ele vai fazer essa inflexão em ní vel<br />
de participação política e não apenas teórica.<br />
Como estudante, Ramos analisou o livro escrito por José Américo de Almeida,<br />
afirmando que “nenhum douto da academia tem o conhecimento terreno, o co -<br />
nhe cimento de campo, o conhecimento da vivência na carne de um nordestino,<br />
de um sertanejo, como tem José Américo”. Aí ele vai-se bandeando numa denúncia<br />
contra o Estado Novo. D. Marina me contou uma coisa que não pude comprovar:<br />
que Ramos tinha sido preso e deixado um bilhete para ela, que ela havia<br />
perdido, na primeira vez em que foi preso. No bilhete, Ramos dizia que a prisão<br />
dele era, exclusivamente, para impedir a luta que ele estava desenvolvendo na<br />
cátedra contra o nazismo e as ideologias racistas. Em 1937, ele realmente é preso.<br />
Encontrei todo o material do DOPS: ele foi preso trocando informações com<br />
um agente do Partido Comunista. E foi essa inserção dele junto às esquerdas, mais<br />
do que a inserção junto aos intelectuais culturalistas, que aprofundou em Ramos<br />
essa condição de estudar o Brasil como influência social, e não apenas cultural.<br />
Arthur Ramos teve uma convivência fecundíssima. Em torno dele se reu niam os<br />
maiores intelectuais nordestinos da época. No seu apartamento, tanto na Praia do<br />
Russell quanto no Edifício Tupi, que ontem foi aqui mencionado, Arthur Ramos<br />
reunia não só os intelectuais do Nordeste, como de outras partes do Brasil que<br />
viessem ao Rio de Janeiro, apresentados, porque ele tinha um papel de orien tador.<br />
A principal contribuição de Arthur Ramos, a meu ver, foi ter projetado as ciências<br />
sociais, não só o que ele fez pela Sociedade Brasileira de Antropologia, mas por ter<br />
projetado em nível internacional os intelectuais brasileiros. Mostrou lá fora que aqui<br />
se fazia ciências sociais, o que lhe granjeou uma reputação inter nacional muito grande<br />
e o fez o mais traduzido entre todos os cientistas brasileiros de sua época. Sua ideo -<br />
logia o fizera combater tanto o nazismo, que o juntara à UNE para escrever Guerra<br />
e relações de raça e O Brasil e a guerra. Ele enviava todos os seus trabalhos do México.<br />
Estávamos vivendo, então, uma época de combate ao nazismo. E houve a formação<br />
de um grupo que ia desde Juliot Curie, na Fran ça, até Jaime Bodet, no México,<br />
abrangendo ainda todo um grupo latino-ameri cano empenhado em fazer uma conjunção<br />
científica que viabilizasse, totalmente, a Carta dos Direitos Humanos. Caberia<br />
à Unesco realizar essa grande tarefa, por meio da ciência, da participação do intelec -<br />
tual, do trabalho acadêmico de escla recimento. É um grupo que discute no I Congresso<br />
das Américas de Estudos Universitários, no qual o Brasil não se representa. Arthur<br />
Ramos não se fez presen te porque era 1949 e ele estava em Oslo, abrindo a I Reunião<br />
de Sociedade Internacional de Sociologia.<br />
An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119