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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 78<br />

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de um território desconhecido, o antropólogo se vê observando um precursor<br />

mítico da curiosidade e imaginação antropológica. O missionário-observador já<br />

estivera nos Mares do Sul, Java, Nova Zelândia, e entre os maoris. Aos domingos,<br />

entretanto, incorporava o severo pregador que reunia toda gente a bordo em<br />

torno das suas preleções matinais. “É a única alusão à guerra”, que Ramos diz<br />

ouvir de seu “amigo”. De fato, o também professor de teologia parece ser o seu<br />

mais freqüente interlocutor, e é a vocação missionária, e não uma arguta capacidade<br />

de observação, o que parecia irmaná-los. 29<br />

Na mesma série de impressões sobre a “experiência americana”, Ramos deta -<br />

lhava seus objetivos e os compromissos, suscitados já nas suas referências à espan -<br />

tosa ignorância dos turistas que partilhavam com ele as manhãs ensolaradas no<br />

navio. Seus planos para a Louisiana State University eram ministrar dois cursos.<br />

Um sobre raças e culturas do Brasil, incluindo aspectos “da cultura, raça e antro -<br />

pologia física e cultural do índio, do europeu e do negro”; e outro, um seminário<br />

sobre as relações de raça. Para os leitores brasileiros prometia ainda mais: “De -<br />

ba teremos nesse setor as nossas experiências – a norte-americana e a brasileira –,<br />

especialmente no tratamento concedido às massas negras e índias das respectivas<br />

populações.” 30 Como missionário e tradutor, seu papel era dirimir incompreensões<br />

e explicar um desconhecido Brasil “entre círculos intelectuais”. Ramos tingia<br />

seus projetos com outras intenções de caráter fortemente nacionalista. 31 Estava<br />

em seus planos comparar a “situação do negro” nos dois contextos. Já em Baton<br />

Rouge, todas as primeiras impressões sobre a viagem, o encontro com o Mississípi<br />

e o porto de Nova Orleans parecem dar lugar a uma certa hesitação. E nesse ponto<br />

não é meu propósito recuperar, mas tão-somente imaginar os percalços e<br />

as experiências que teriam levado Ramos a privilegiar (ou a reduzir) suas impres -<br />

sões sobre o sul dos Estados Unidos a uma insistente referência comparativa<br />

ao Brasil. Esses comentários pontuam, de forma insistente, tanto os relatos de<br />

viagem quanto as notas que pretendeu etnográficas, dispersas por várias partes<br />

de sua coleção. Aos leitores de sua coluna, assegurava: não se des cuidaria daquela<br />

que talvez fosse sua missão principal – divulgar a “filosofia” das raças existentes<br />

no Brasil:<br />

“(...) temos que ensinar também. Ensinar uma técnica de vida que é caracteristicamente<br />

nossa. A técnica das relações humanas. A técnica da conduta social. A<br />

técnica da real democracia que transcende as injunções deste ou daquele período<br />

histórico (…) O estudo direto do negro no Deep South me proporcionará elementos<br />

de cotejo com idênticos problemas no Brasil – em seus aspectos antropológico,<br />

sociológico, psicológico etc. Direi lá o resultado da nossa experiência – que<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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