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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 63<br />

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cambos requereram dela uma imensa habilidade ao falar em nome de Ramos e<br />

ao mesmo tempo sobre Ramos. “Tenho notado”, confessava ao antropólogo, “que<br />

eles querem se aproveitar de mim, querem que eu consiga licença para a seita<br />

funcionar sem interrupção (...)”. Sem entrar em detalhes de como negociaria o<br />

prestígio e o nome de Ramos entre as autoridades locais, Otinha se dirigia a<br />

Ramos num tom mais pragmático, o que sugeria total desenvoltura com os percalços<br />

encontrados na sua constante inquirição. “(…) Perguntei a Padre Nosso<br />

se tinham algum livro que ensinasse todas as palavras de nossa língua para o<br />

africano. Disse que não e que o velho, o Babalorixá, é que ensina muita coisa.<br />

Que ro ver se consigo agradar o velho e apanhar um bocado de coisas. Se você<br />

tem alguma coisa que deseja saber, será bom dizer, porque assim será mais fácil<br />

para mim. Ou melhor, escreva, dizendo o que deseja que eu consiga do<br />

velho babalorixá.” 7<br />

Pelo menos num período inicial de sua carreira de antropólogo, outros “assistentes”,<br />

“colaboradores”, “alunos”, amigos e familiares de Ramos foram figuras<br />

chave na mediação do seu contato com as personagens que povoavam o campo<br />

no qual se transformara, pouco a pouco, em especialista. Seu tenso, embora amistoso,<br />

relacionamento com Édison Carneiro, a quem, por vezes, se referia como<br />

um “aluno”, revela parte importante do método de pesquisa adotado por Ramos<br />

durante os anos 1930 – momento no qual sua autoridade nos assuntos afrobrasileiros<br />

é definitivamente estabelecida. Exilado – em grande parte por motivos<br />

políticos, mas, também, na condição de escritor devotado à preparação de seus<br />

livros sobre religiosidade afro-brasileira –, Édison produz, compartilha e interpreta<br />

vários textos, informações e imagens enviadas a Ramos. Mesmo que as bases<br />

dessa colaboração não reflitam uma insuspeita relação de amizade, seus limites<br />

pareciam claros. Na correspondência entre os dois, Édison parece encarnar volun -<br />

tariamente a figura de um cordial e aplicado coletor de informações e Ramos,<br />

um nada inocente e provável editor de seus escritos. Curiosamente, essa imagem<br />

se dissipa se atentarmos que, para além das diferenças quanto às formas de tratamento<br />

e interlocução, não havia grandes distâncias nos métodos utilizados por<br />

ambos na obstinada coleta de informações sobre as populações negras. De Mar<br />

Grande, em Itaparica, Carneiro relatava seus progressos ao seu provável editor e<br />

prometia mais material: “Também pensei em lhe mandar um vocabulário maluco,<br />

nagô-português, que eu e Guilherme Dias Gomes (que a<strong>final</strong> está no Rio)<br />

tentamos, em 1933, arrancar do pai-de-santo e babalaô do Engenho Velho, Mar -<br />

ti niano do Bonfim. Mas mudei de idéia. Vou mandá-lo ao Renato de Men don -<br />

ça, que é especialista no assunto – e suponho que com sua aquiescência.” 8 Essa<br />

reciprocidade nem sempre foi publicamente explicitada. Só depois da morte de<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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