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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 65<br />

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ta mente uma novidade. Todavia, as notas, correspondências e relatos que des -<br />

crevem essas relações não deixam de colocar em relevo distintas intervenções e<br />

experiências em torno da pesquisa, utilizadas pelo autor ao longo de sua trajetória<br />

intelectual. Embora, em toda a sua extensa bibliografia, Ramos não tenha produ -<br />

zido textos cujo caráter seja, estrito senso, etnográfico, notas produzidas por ele<br />

e a ele enviadas por seus diferentes colaboradores revelam como o próprio Ramos<br />

concebia as práticas que consagraram sua conversão de médico em antropólogo. 12<br />

A leitura das notas de Ramos nos permite perscrutar um território pouco explora -<br />

do da prática antropológica. Como ressalta Rena Lederman, enquanto o trabalho<br />

de campo e a etnografia têm sido objeto de acuradas leituras e críticas, devido ao<br />

seu caráter pessoal, supostamente inconcluso e provisório, as “notas de campo” têm<br />

sido ignoradas como objetos de análise (1990: 73). A propósito das diferenças<br />

entre “notas de campo” e etnografia, James Clifford argumenta que “a identidade<br />

das notas de campo como um corpus discreto depende de uma especialização<br />

difícil de ser mantida, um conjunto específico de distâncias, fronteiras e modali -<br />

dades de viagem (...)” (Clifford, 1990: 64). As notas produzidas por Ramos em<br />

situações pessoais/profissionais diversas nos possibilitam, ao menos, revolver um<br />

campo intrincado de discursos sobre os primórdios da antropologia dedicada aos<br />

temas afro-americanos produzida no Brasil. A suposição, comumente sugerida<br />

em tom acusatório (Carneiro, 1964), de que Ramos não foi exatamente um fieldworker,<br />

acaba por qualificar não somente certos “pais fundadores” em detrimento<br />

de figuras periféricas, bem como práticas e procedimentos de pesquisas.<br />

Ao focalizar, não exclusivamente, mas com maior detalhe, o material etnográfico<br />

utilizado por Ramos, proponho um outro caminho de análise. 13 Não só as anotações<br />

de uma inacabada etnografia sobre a vida e religiosidade das classes pobres<br />

no Rio de Janeiro produzidas no <strong>final</strong> dos anos 1940, como notas de diários<br />

e textos contendo informações colhidas ao longo de sua viagem e pesquisa no sul<br />

dos Estados Unidos, nos sugerem que Ramos tinha seus próprios modelos do<br />

que chamava pesquisa de campo e etnografia, modelos que, em certa medida, não<br />

eram tão distintos daqueles que marcaram experiências vivenciadas por antropólo -<br />

gos de sua geração e com os quais partilhou interesses temáticos e afinidades<br />

teóricas. Há, certamente, hiatos e silêncios interessantes nas marcas dessa passa -<br />

gem pelos EUA, que serão a seguir explorados. Assim, não só as notas de um es -<br />

tra nho campo construído por Ramos ao redor do Edifício Tupi, mas as descrições<br />

de viagens e pesquisas que concebeu como sendo de caráter etnográfico, podem<br />

nos ajudar a revolver diferentes níveis de compreensão sobre qual tem sido o seu<br />

lugar em tentativas de produção de uma narrativa histórica sobre a antropologia<br />

no Brasil. Todavia, é preciso advertir o leitor de que não partilho da fantasia de<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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