02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 31<br />

31<br />

Não obstante a crença no argumento da “cooperação entre povos e etnias no<br />

Brasil”, suposta marca de distinção da sociedade brasileira (RAMOS, 1943: 179),<br />

Arthur Ramos, em seus trabalhos, colocou em evidência a violência da escravidão,<br />

sem, no entanto, coisificar o escravo. Destacou também, no período pós-abolição,<br />

as acentuadas desigualdades sociais entre brancos e negros, bem como a existência<br />

do “preconceito de cor” no Brasil. O problema da inserção dos negros na socie -<br />

dade brasileira estava presente em sua obra, ora visto como uma questão social,<br />

ora percebido como dificuldade afeita à condição de minoria nos estados do Sul.<br />

O emblemático “laboratório de civilização” parecia situar-se no ambíguo terreno<br />

dos valores, distante dos fatos sociais. 7<br />

O fim da II Guerra Mundial leva Arthur Ramos a um exercício de reflexão sobre<br />

as marcas do etnocentrismo e do racismo, ressaltando a importância da antropologia.<br />

Em 1945, Arthur Ramos escreveu o prefácio de As raças da humanidade, pequeno<br />

livro de divulgação da luta contra o racismo, elaborado pelas antropólogas<br />

Ruth Benedict e Gene Weltfish, da Universidade de Colúmbia. Os “boasianos” encontravam-se<br />

na linha de frente da luta contra o racismo desde os anos 1920.<br />

Ramos constatava que o saber antropológico viveu uma perversa combinação<br />

entre ciência e política, tendo servido a causas nada edificantes em nome “da falsa<br />

idéia da civilização-igual-a-domínio-europeu-do-mundo”. O racismo, em sua<br />

vertente nazista, parecia-lhe a última fronteira ideológico-política da racionaliza -<br />

ção do determinismo biológico.<br />

Entretanto, em face da ideologia racialista que grassava no senso comum, envolto<br />

por sistemas supostamente objetivos e fidedignos de classificação das raças,<br />

fazia-se necessário ampliar a divulgação de uma antropologia de corte boasiano,<br />

que pudesse contribuir para a superação das mazelas do racismo. Caberia aos an -<br />

tropólogos ressaltar “a universalidade das misturas (apontando para) a conclu são<br />

lógica (de) que a civilização nada tem a ver com a cor da epiderme, a forma dos<br />

cabelos ou a cor dos olhos”. 8<br />

O fim do Estado Novo e a democratização de 1945 acentuaram a convicção<br />

de Arthur Ramos no projeto de uma antropologia socialmente engajada. Sua<br />

aproximação da esquerda (especialmente do Partido Comunista do Brasil – PCB),<br />

suas aulas na Universidade do Povo, sua colaboração com o movimento negro,<br />

especialmente com o Teatro Experimental do Negro, importaram numa reelabo -<br />

ração dos afazeres antropológicos e da sua própria visão do Brasil.<br />

Nesse sentido, a conferência de Arthur Ramos por ocasião da tradicional<br />

Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo, em agosto de 1948, um ano<br />

antes de assumir a direção do Departamento de Ciências Sociais da Unesco,<br />

intitulada Os Grandes Problemas da Antropologia Brasileira, de caráter niti-<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!