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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 89<br />

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gem em terras norte-americanas. Em Guerra e relações de raça (1946), por exem -<br />

plo, a antropologia é chamada ao debate de maneira explícita. E ao fazê-lo Ramos<br />

não se furta em reconhecer seus abusos. Entretanto, ao mencionar a difu são das<br />

teorias racialistas entre os intelectuais brasileiros no início do século, e sua posterior<br />

refutação, refere-se apenas a processos de “ampliação” conceitual e não a<br />

alterações de caráter qualitativo, na medida em que a sociedade ainda era incapaz<br />

de resolver grande parte das questões propostas pela ciência: “A noção estrei -<br />

ta de raça foi ampliada com as de etnias e culturas” (1943: 19). A verdadeira<br />

transformação, segundo Ramos, seria de outra ordem. Isto é, menos os conceitos<br />

mas a própria disciplina deveria debruçar-se sobre outros temas cujas “soluções”<br />

seriam mais prementes.<br />

A “antropologia aplicada”, para Ramos, não mais se encarregaria de ser o braço<br />

científico do colonialismo entre os povos “ditos primitivos”, mas equalizaria o<br />

caráter autoritário que caracterizou a disciplina nos seus primórdios. Tal tarefa<br />

consistiria em responder às questões prementes das nações, como os revivalismos<br />

racistas e os enquistamentos étnicos. Estavam ali os dilemas que se antepunham<br />

à formação das nações. No que diz respeito ao Brasil, ao mencionar as fronteiras<br />

e espaços que careceriam de técnicos, especialização e “gente qualificada”, enumeraria<br />

os serviços de migração de trabalhadores para a Amazônia, o Serviço de<br />

Proteção aos Índios e o Serviço de Colonização. Seriam essas tarefas impostas<br />

pelo necessário processo de assimilação. O racismo – decorrência inexorável da<br />

disseminação das teorias racialistas – passaria a ser, ele próprio, objeto de atenção<br />

da antropologia. Como diria Ramos, resultado de um processo de “europeização<br />

do mundo”, o racismo consistia num reflexo das imposições e do caráter autoritário<br />

dessas formulações. O projeto de Brasil, que sua geração vislumbrara,<br />

vestira definitivamente os brasileiros com o manto da “cultura” – o outro nome<br />

da diferença.<br />

No terreno dos debates sobre democracia, os EUA dos anos 1940 não eram<br />

propriamente o paraíso. Como mostrei na seção anterior, sobre isso Ramos preferiu<br />

manter o silêncio, ainda que seus interlocutores lhe pedissem comentários e até<br />

pesquisas sobre a “situação dos negros no Sul”. Ramos, ao contrário, referiu-se<br />

vagamente a aspectos ligados ao “folclore negro na Louisiana” para abordar o<br />

“pro blema das raças” no Brasil. Ramos passou alguns meses de sua estada nos<br />

EUA numa típica cidade do Sul sob o Jim Crow, entretanto não mencionou a<br />

existência de linchamentos, high schools e colleges segregados (Cade, 1947; Kunkel,<br />

1959). Nem assinalou a permanente tensão racial em Chicago, a timidez dos<br />

campi liberais e supostamente dessegregados nas cidades do Norte. Curiosamente,<br />

essas referências, ainda que cifradas, vêm de seus interlocutores mais inusitados,<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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