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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 17<br />

17<br />

Meu interesse por Arthur Ramos cresceu no contexto de uma pesquisa sobre<br />

a “psicologização” no Brasil, ou seja, a difusão de uma visão de mundo baseada<br />

no pressuposto da existência (e relevância) de uma instância específica dos sujei -<br />

tos humanos, interna a cada um deles (o “psiquismo” ou “vida psicológica”), e<br />

do tada de propriedades e dinamismo próprios, passíveis de intervenções propicia -<br />

tórias (cf. Duarte, 2001). O desenvolvimento e difusão da psicanálise na primeira<br />

metade do século XX é uma das manifestações mais sistemáticas, explícitas e influentes<br />

desse processo. A. Ramos é um dos personagens eminentes da “psicologi -<br />

zação” do campo intelectual brasileiro, pioneiro na transposição desse processo<br />

para o plano das interpretações da vida coletiva nacional.<br />

Para compreender melhor a posição específica de nosso autor nesse campo,<br />

pode ser útil apresentar uma chave mais abrangente de interpretação do período<br />

e de suas forças características. As relações acadêmicas intensas e sistemáticas da<br />

antropologia com a psicanálise se deram em dois diferentes momentos da história<br />

das ciências humanas no Brasil: o período “heróico” que vai – grosso modo –<br />

dos anos 1920 ao <strong>final</strong> dos 40 (o “entreguerras”) e o período “crítico”, aberto nos<br />

anos 1970 deste século (cf. Duarte, 2000). O primeiro período é caracterizado<br />

basicamente pela produção de dois autores – Arthur Ramos e Roger Bastide –,<br />

ambos considerados “antropólogos” 16 e igualmente influenciados pela freqüentação<br />

da literatura psicanalítica – cujas problemáticas invocam explicitamente em<br />

suas obras. Os próprios contrastes entre os dois autores – muito grandes sob diversos<br />

aspectos – permitem precisar o foco de análise sobre o “regime” em que<br />

se processa sua articulação entre os dois saberes.<br />

O segundo período é, por sua vez, caracterizado basicamente pela produção<br />

de dois outros autores – Gilberto Velho e Sérvulo Figueira –, ao longo dos anos<br />

1970 e 1980 no Rio de Janeiro. Nesse caso, chegou a haver interação produtiva<br />

imediata entre os dois autores, ensejando a articulação de uma rede mais especia -<br />

lizada do que a do período “heróico”, em função de uma série de características<br />

diferenciais do campo acadêmico nos dois momentos. O primeiro autor é conhe -<br />

cido como antropólogo e o segundo como psicanalista, embora tenha produzido<br />

nesse período uma obra que era considerada (e que ele próprio considerava)<br />

de cunho antropológico. A psicanálise aparece como tema avantajado das duas<br />

obras, mas de uma forma muito diferente da do outro “regime”.<br />

No primeiro regime, 17 que se caracteriza – no nível da análise “interna” – pela<br />

disposição de incorporação dos recursos de interpretação psicanalítica à análise<br />

dos fenômenos “culturais”, prevalece a continuada referência à “cultura negra”<br />

ou “cultura dos negros” no Brasil e, particularmente, aos fenômenos religiosos<br />

ligados à “raça” ou à “herança africana”. A questão do “transe” nos cultos atra -<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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