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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 80<br />

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de viajantes especializados – teriam necessariamente que descrever tudo o que<br />

viam, ou, mesmo, será que teriam tal poder de arguta observação?<br />

Mencionei rapidamente que Ramos viajara aos EUA num contexto de guerra.<br />

Essa referência não é um mero detalhe. A mobilização e o engajamento de<br />

intelectuais em esforços de guerra de diversos matizes redefine os parâmetros do<br />

debate sobre o papel da antropologia. Mais do que isso, como nos mostrou Amy<br />

Kaplan (1993) para o caso norte-americano, tanto os debates quanto as interpre -<br />

tações e narrativas produzidas sobre a guerra – desde a Guerra Civil – estão eivados<br />

de construções e projetos de nação. Não só nos textos que, dos Estados<br />

Unidos, Ramos envia para serem publicados em sua coluna no jornal Diretrizes,<br />

mas, sobretudo, nos convites que recebe de universidades americanas, percebese<br />

a interligação de dois temas: “democracia” e “raça”. Seu entendimento, porém,<br />

deve estar conectado a todo um contexto no qual discursos semelhantes se sobre -<br />

põem, embora dirigidos a questões e preocupações diversas. O ambiente inte -<br />

lectual americano, suas associações de classe, publicações e investimentos – como<br />

nos mostrou George W. Stocking Jr. –, vive alguns dos “medos” da guerra inten -<br />

samente e, é claro, por motivos diferentes. Algo, porém, parece tornar grande<br />

parte desses movimentos reativos em um uníssono: a idéia de que os ideais de -<br />

mocráticos da América deveriam ser expandidos como uma espécie de antído to<br />

contra o avanço do nazifacismo. Esse ideal levou antropólogos a integrarem-se<br />

em esforços de guerra, outra modalidade de viagem onde a guerra e os “povos”<br />

se misturavam em cadernos de campo e dossiês enviados ao Departamento de<br />

Estado norte-americano. A preocupação em produzir uma antropologia aplicada<br />

ao contexto de guerra não foi, obviamente, uma preocupação exclusiva de<br />

Ramos. Melville Herskovits, na sua importante e extensa rede de contatos com<br />

intelectuais caribenhos e latino-americanos, explicitou claramente sua preocupação<br />

não só com a posição do governo mas, também, com a dos intelectuais<br />

brasileiros:<br />

“Acredito que a ativa participação do Brasil na guerra, algo que foi cordialmente<br />

bem recebido neste país, não faça muita diferença no seu planejamento para o<br />

Departamento. De qualquer forma, é confortante saber que os nossos governos<br />

estão utilizando toda a capacidade profissional dos antropólogos nesse momento<br />

(…).” 36<br />

A América Latina, nesse contexto, é vista como um frágil território. O Brasil,<br />

um exemplo pouco conhecido de como raças poderiam viver em harmonia. Mas<br />

aqui e ali o fantasma racialista pairava sobre os céus abaixo da linha do equador.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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