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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 117<br />

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era agora duramente crítico não apenas da escravidão – “que havia completamente<br />

alterado o comportamento social do negro. A escravidão esmagou os escra -<br />

vos no mesmo moinho da opressão branca” 33 –, mas também do colonialismo<br />

europeu. Enquanto o luso-tropicalismo de Freyre celebrava a adaptabilidade cli má -<br />

tica e o erótico cosmopolitismo dos colonizadores portugueses, Ramos denunciava<br />

o colonialismo europeu por ter, em primeiro lugar, originado o racismo, mas<br />

não abandonou a tese da harmonia racial. 34 Sua longa visita aos Estados Unidos<br />

em 1940 confirmou o caráter especialmente grave da questão do negro naquele<br />

país. Antecipando a interpretação revisionista das relações raciais brasi lei ras, que<br />

emergiria do projeto piloto da Unesco, ele pensava, no entanto, que no Brasil,<br />

ao contrário dos EUA, a “linha da cor” era mínima e praticamente ine xistente,<br />

tendendo a constituir-se um problema de classe em vez de casta. 35<br />

Seu nacionalismo cultural, alimentado pelo espectro da ciência racial nazista,<br />

não apenas distanciou Ramos de Freyre politicamente, mas o trouxe mais próxi -<br />

mo aos intelectuais progressistas de São Paulo. Quando Freyre passou a ser um<br />

ideó logo do regime ditatorial de Salazar e um apologista da política colonial portuguesa<br />

também na África, a oposição intelectual e política às suas posições conservadoras<br />

tornou-se explícita. Em 1941, Paulo Duarte, o advogado e jornalista<br />

que mais tarde deu valioso apoio ao projeto de pesquisa da Unesco em São Paulo,<br />

respondia a uma carta de seu próximo amigo Mário de Andrade, em que este<br />

denunciava a “desonestidade intelectual” de Freyre, com uma detalhada e mordaz<br />

crítica de O mundo que o português criou. 36 E, em 1944, Antonio Candido<br />

lançou uma igualmente dura crítica, com tons nacionalistas oblíquos. Uma das<br />

mais perigosas modas intelectuais contemporâneas, escreveu Candido, era a “sociologia<br />

cultural”, que, especialmente na forma praticada por pesquisadores bra -<br />

sileiros, constituía um “abuso, uma deformação. Observe-se apenas o nosso mestre<br />

Gilberto Freyre e os extremos a que está levando seu culturalismo. Seus últimos<br />

escritos têm-se degenerado em conservadorismo e tradicionalismo. Apaixonado<br />

por seu ciclo cultural luso-brasileiro, ele foi levado a construir um mundo só seu<br />

no qual o progresso combina com a preservação dos traços característicos anteriores.<br />

Tudo parece justificado desde que leve a marca do mundo que o português<br />

criou, que estamos desenvolvendo e man-tendo vivo, sim senhor, com a ajuda<br />

de Deus e de Todos os Santos”. 37<br />

Entre os intelectuais progressistas de São Paulo, o nacionalismo cultural de<br />

Ramos despertava, ao contrário, um inegável interesse, em razão de sua afinidade<br />

com a busca do movimento modernista por uma autêntica cultura brasileira.<br />

Mário de Andrade, seu “eminente amigo”, cujos escritos sobre a identidade nacio -<br />

nal brasileira eram emblemáticos do movimento modernista, havia convidado<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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