02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 139<br />

139<br />

Orlando Valverde<br />

Geógrafo, membro do Conselho Nacional de Geografia e autor de Geografia agrária do<br />

Brasil (1964)<br />

Éuma coisa muito difícil, para mim, falar sobre Arthur Ramos depois da professora<br />

Luitgarde. Ela sabe tudo! Eu tenho, apenas, como contribuição, a circunstância,<br />

extremamente feliz, de ter sido estudante de geografia na extin -<br />

ta Universidade do Distrito Federal, a UDF, no período de 1936 a 1939. Quero,<br />

então, contar um pouco da minha história que é, também, digamos, agre di da pelas<br />

situações difíceis passadas no mundo, nessa década de 30, que, por outro lado, foi<br />

riquíssima em experiências. Arthur Ramos foi um exemplo extraor dinário dessa fase.<br />

Poderia dizer que, no presente, estou a uma distância de 49 anos de separação<br />

daquela figura de professor. Eu era um rapaz de 19 anos, expulso da Escola Naval,<br />

junto com outros 10 por professar idéias extremistas, sem que houvesse nenhuma<br />

prova material para condenar qualquer dos 11. Engraçado, foi o primeiro “gru po<br />

dos 11” que se formou extra-oficialmente, pois fomos expulsos pelo simples fato de<br />

que éramos contra o integralismo. Nós sentíamos nesse movimento uma cópia cari -<br />

cata do nazismo e fomos submetidos a um inquérito policial-mili tar, dirigido por<br />

um capitão-de-mar-e-guerra que era chefe de um núcleo integralis ta. É claro, era<br />

lógico, que, nessas circunstâncias, seríamos desligados. Depois que nos mandaram<br />

embora, as famílias foram, preocupadas, falar com o diretor da escola, o contra-almirante<br />

Castro e Silva. (Mais tarde, fiquei admirado, sabendo que ele era amigo de d.<br />

Branca Fialho. Como é que uma criatura tão culta podia... Bom, enfim, foi assim.<br />

A amizade não custa dinheiro. Mas creio que ela jamais aprovaria uma atitude dessas).<br />

Quando os familiares iam ao almirante perguntar por que fulano, filho dele,<br />

ou sobrinho, o que fosse, tinha sido expulso, ele botava culpa num outro: “Ah,<br />

não, a asa negra do negócio é o sicrano.” Jogava a culpa em um ausente e, assim,<br />

escapava de responder de frente. Essa resposta de frente realmente desapareceu:<br />

foi o processo.<br />

Durante 25 anos, de vez em quando, eu ia ao Ministério da Marinha para<br />

pedir vistas ao processo. Eu, algum dos acusados, um advogado, qualquer pessoa<br />

interessada. Nada se conseguia. Os advogados não puderam funcionar porque<br />

não havia causa, denúncia formulada na Justiça. E, naquele tempo, não havia<br />

computador, não é? Mas 25 anos depois, um dos nossos colegas foi ao Arquivo<br />

Nacional, que ficava num prédio do século passado na Praça da República. Havia<br />

lá um velhinho que tinha um computador aqui, na cabeça. Era um homem muito<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!