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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 111<br />

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telectualmente. A Unesco diagnosticava a guerra parcialmente como um estado<br />

de espírito. A tarefa da reconstrução democrática era, portanto, não apenas política<br />

e econômica, mas também moral e intelectual. O mundo dos vitoriosos precisava<br />

ser moralmente exonerado, restituindo a fé na natureza humana. Assim,<br />

para tornar a guerra moralmente impossível, a “ignorância e o preconceito” que<br />

fizeram possíveis as doutrinas nazistas de “desigualdade de homens e raças” precisavam<br />

ser erradicados. 6 Esse era o mandato internacionalista da Unesco, a ser<br />

desempenhado por meio de programas educacionais e intercâm-bios culturais<br />

entre povos, concebidos para disseminar o respeito universal à jus-tiça, ao princípio<br />

da legalidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamen-tais para todos,<br />

“sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. 7 A ciência positiva iria for necer<br />

o conhecimento apartidário necessário para desautorizar a ciência racista que fize -<br />

ra do nacionalismo agressivo a causa da guerra.<br />

No entanto, muito em breve os gélidos ventos da Guerra Fria anunciavam novas<br />

e profundas divisões político-ideológicas na ordem mundial do pós-guerra, que<br />

mudaram o ponto de vista da agenda da Unesco. Em 1948, a polarização do mundo<br />

em dois blocos hostis toma forma. A conquista de respectivas esferas de influência<br />

teve como um dos seus cenários os novos estados emergentes dos antigos impérios<br />

coloniais europeus. A confiança cosmopolita que a Unesco depositava no entendimento<br />

internacional foi fortemente abalada com o bloqueio soviético a Berlim, a<br />

dramática ponte aérea no inverno de 1948, e pela guerra da Coréia em 1950. Julian<br />

Huxley, seu então diretor-geral, foi forçado a admitir a “impossibilidade da Unesco<br />

tirar o coelho da paz política do chapéu cultural e científico”. 8 Além disso, o racismo<br />

não havia desaparecido como se esforçava para demonstrar a União Soviética,<br />

escolhendo os Estados Unidos como alvo preferencial de suas críticas. “As idéias de<br />

desigualdade racial e nacional,” dizia o Pravda, em 1946, “encontram expressão<br />

concreta na política adotada por governos capitalistas com relação a povos colonizados<br />

ou dependentes e a minorias dentro de países metropolitanos”. 9<br />

Por volta de 1949, a Unesco percebeu que a segregação racial persistente nos<br />

Estados Unidos, o desafio da descolonização de “preconceitos ocidentais sobre<br />

os ‘outros’ colonizados” e a crescente preocupação com as leis de apartheid na<br />

África do Sul exigiam um esforço conjunto da parte de cientistas de todo o mundo<br />

para enfrentar o problema e eliminar o preconceito racial “em casa”. Foi nesse<br />

momento que a agenda internacionalista desta organização se voltou para um<br />

projeto nacional, buscando do outro lado do Atlântico uma fórmula que pudesse<br />

ajudar a superar um problema, “raça”, que se tinha originado na Europa.<br />

Conexões pessoais e intelectuais transatlânticas, relacionadas com o evento, faci -<br />

litaram a formação de um programa concreto em meio à crescente tomada de cons -<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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