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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:27 PM Page 92<br />

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1941, para dedicar-se quase que exclusivamente às suas aulas na Universidade do<br />

Brasil e à organização da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia. 49 O<br />

lugar ocupado por essa reportagem nos papéis de Ramos suscita dúvidas quanto<br />

à lógica que permitiu sua inclusão junto a outros conjuntos de registros. Uma<br />

reflexão sobre a natureza desses materiais se mostra uma alternativa interessante<br />

para concluirmos nossa interpretação sobre o lugar da viagem e da pesquisa de<br />

campo na sua trajetória intelectual.<br />

Os artefatos transformados em troféus, quase souvenirs de um professor bra -<br />

sileiro em Baton Rouge, expõem um intrigante silêncio. Trabalhos de curso, retra -<br />

tos, cartões-postais e cartas de alunos revelam uma curiosa intimidade. Impassível<br />

diante de alguns tímidos comentários sobre a segregação no Sul, Ramos constrói<br />

um Brasil harmonioso, sem história ou passado. A plantation é cenário hollywoodiano,<br />

suas personagens, Uncle Toms mumificados, não têm voz. Ramos silen -<br />

cia a todos. Seus alunos são familiarizados não só com o brazilian way of life, mas<br />

com outras utilidades da antropologia. 50 Para Sue Elkin, aluna de Ramos, a presen -<br />

ça do professor brasileiro em Louisiana mudara suas impressões sobre a discipli -<br />

na. Depois da passagem de Ramos, dr. Fravot, membro do General Education<br />

Board, o substituíra ministrando aulas sobre race relations. Sue não parecia muito<br />

otimista: “Não estou querendo com isto subestimar o sr. Fravot. Eu realmente o<br />

acho muito agradável, muito sincero. Mas tive que agüentar certo tipo de coisa…<br />

às vezes, ainda piores que as do tipo: ‘os negros têm alma’? Coisas desse tipo. E<br />

é claro que essas tépidas discussões prejudicavam o estudo sério.”<br />

Curiosamente, essas cartas sugerem que as pesquisas da jovem sulina inspiraram<br />

Ramos na construção de alguns quadros comparativos, utilizados em seus<br />

escritos posteriores sobre religiosidade dos negros no Novo Mundo. Sue trocou<br />

com Ramos expectativas em torno da profissionalização em antropologia e de -<br />

mons trou interesse em, por meio de Ramos, aproximar-se de Herskovits. Esses<br />

comentários emolduravam as histórias que contava sobre suas primeiras experiên -<br />

cias de campo inspiradas, dizia ela, nas suas aulas com Ramos na LSU. Suas pri -<br />

meiras viagens ao Deep South, o temor de seu marido de que as leituras dos livros<br />

de Zora Neale Hurston e seus interesses a transformassem numa “negra” e, princi -<br />

palmente, os medos que atormentavam sua cozinheira Cissie, a qual, tal como<br />

Eulina – a lavadeira de Ramos –, acreditava que fantasmas acompanhavam os<br />

vivos. Esse misto de hesitação e interesse foram objetos do diálogo entre Sue e<br />

Ramos. Foi exatamente nesse período que Ramos iniciou sua etnografia mais<br />

doméstica. Talvez Eulina e Cissie tivessem algo em comum: tinham antropólogos<br />

como patrões. 51 É possível que tanto Eulina quanto Cissie incorporassem<br />

uma primitividade em vias de desaparecimento no coração da nação. E, nesse<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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