02.08.2013 Views

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 69<br />

69<br />

formas de veiculação e circulação. “O viajante moderno”, adverte, “diferente do<br />

etnógrafo, não tem campo, só uma rota, nenhum corpus de dados classificados,<br />

só a narração. As ‘descrições’ de viagens primárias são registradas em jornais e<br />

não em notas de campo. Como essas diferenças genéricas e profissionais têm sido<br />

constituídas e mantidas” (1990: 65)? Ou mesmo, caberia indagarmos até que<br />

ponto o destino dessas experiências é responsável pela alteração e requalificação<br />

daquilo que foi experimentado, descrito e narrado? Nas palavras de Lévi-Strauss,<br />

o “viajante moderno” dissimula seu conhecimento sobre o objeto. A estranheza<br />

não mais se impõe como experiência mediadora dos encontros. “O viajante moder -<br />

no é menos surpreendido do que admite (...) a busca do exotismo resume-se à<br />

coleção de estados antecipados ou retardados de um tema que nos é familiar”<br />

(1996 (1955): 82).<br />

A ambigüidade que denota essa semelhança de gêneros de escrita pode ser<br />

transposta para a complexa relação entre notas de campo e etnografia. Nem todas<br />

as notas transformam-se em objeto da reflexão etnográfica, da mesma forma<br />

em que nem sempre essa última se reduz à interpretação direta e exclusivamente<br />

vinculada às experiências vivenciadas no trabalho de campo. A etnografia pode<br />

ser, e por vezes tem sido, resultado de investimentos diversos que comportam des -<br />

crições e reflexões sobre viagens vividas e imaginadas. Resta-nos compreender de<br />

que maneira e por meio de que operações, experiência sociológica e imaginação<br />

convergem no texto etnográfico, e também em que arenas discursivas se transfor -<br />

mam relatos autorizados sobre identidade e diferença (Massi, 1992: 193; Leder man,<br />

1990). Essas considerações nos ajudam a problematizar, sob uma perspectiva<br />

histórica, uma associação já não mais banalizada, mas que à época em que Arthur<br />

Ramos produziu era muito comum: a idéia de que toda e qualquer viagem reali -<br />

zada por esses profissionais da observação especializada poderia ser traduzida em<br />

um estilo particular de descrição. Essas experiências trouxeram implicações particularmente<br />

importantes na configuração de um campo de estudos interdisciplinares<br />

no qual Ramos se viu um autorizado precursor e especialista. As lógicas<br />

responsáveis pela construção e direcionamento dos focos de atenção, escolha,<br />

comparação, bem como os limites que caracterizaram a objetificação do afroamericano<br />

nos anos 1930 e 40 do século passado, resultaram de experiências<br />

de des locamento e transposição de fronteiras – bem como projetos de viagens –<br />

de natureza diversa. Como Ramos, outros intelectuais latino-americanos contemporâneos<br />

produziram narrativas semelhantes sobre o afro-americano, nas<br />

quais temas como “raça” e nação foram confrontados e focalizados como leituras<br />

fragmentadas, frutos de deslocamentos não só de ordem teórica mas, sobretudo,<br />

política.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!