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miolo anais final 25cm:miolo anais final 25cm - Fundação Biblioteca ...

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<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong>:<strong>miolo</strong> <strong>anais</strong> <strong>final</strong> <strong>25cm</strong> 3/22/07 3:26 PM Page 62<br />

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de informantes e nativos. Nesse caminho, o universo da alteridade – radicalmente<br />

oposta na experiência anterior – foi refeito (di Leonardo, 1998; Peirano, 1998).<br />

A construção de um “outro”, sob uma perspectiva antropológica e em contexto<br />

de intenso nacionalismo que condicionava o olhar autorizado em torno do “negro”<br />

no chamado Novo Mundo, implicou rearticular outras formas de relacio -<br />

na mento. A<strong>final</strong>, observadores e observados vivenciavam, ainda que de maneira<br />

diversa, a condição de nacionais. Logo, é através de um discurso entrecortado<br />

por essa condição de nacionalidade pactuada que as relações de alteridade serão<br />

estabelecidas num campo antropológico em formação.<br />

Todavia, os anos 1930, momento em que de fato inicia suas pesquisas de campo,<br />

aliando-as a atividades profissionais distintas, marcam uma maneira de apreender<br />

o diferente, diverso e exótico através de uma singular divisão social e simbólica<br />

do trabalho intelectual. Embora os critérios de especialização num difuso<br />

campo antropológico, em vias de institucionalização no país, tenham sido imprecisos,<br />

as carreiras profissionais bem-sucedidas evidenciam a confluência de<br />

marcadores de classe, cor e gênero na definição de quem foram os antropólogos<br />

e seus “outros” (Peirano, 1981; 1998). A especialização de um campo de conheci -<br />

men tos e práticas adjetivadas como antropológicas, combinada a um amplo pro -<br />

cesso de reforma das instituições nacionais, não foi fenômeno que caracterizasse<br />

exclusivamente o processo de profissionalização da disciplina no Brasil. Como<br />

apontou Clifford, o trabalho de profissionalização da disciplina resultou na com -<br />

ple xa distinção de territórios de interesse e desenvolvimento de políticas etnográ -<br />

ficas que opunham “profissionais”, “amadores” e “folcloristas” (1983). 6 Ramos foi,<br />

sem dúvida, um dos personagens paradigmáticos desse período (Corrêa, 1998).<br />

Contudo, os dilemas que perpassam a configuração de um território de produção<br />

de conhecimentos sobre as apreensões sociais da igualdade e da dife ren ça, caracterizado<br />

por posicionalidades naturalizadamente definidas, consti tuem o ponto ne -<br />

vrál gico de discussões recentes sobre o que, inspirando-me em Bourdieu, apontei<br />

caracterizar uma singular divisão social e simbólica do trabalho intelectual (Bourdieu,<br />

1973; Abu-Lughod; Narayan, 1993).<br />

Essa questão nos oferece a possibilidade de compreender a convivência de estratégias<br />

distintas de estabelecer relacionamentos pessoais, seja na clínica, seja no<br />

contexto etnográfico – mesmo que nem sempre Ramos estivesse presente. Notas,<br />

cartas e trechos de diários sugerem que alguns “informantes” negociaram com<br />

Ramos – direta ou indiretamente – a extensão e natureza de suas informações.<br />

Tais negociações envolveram, por vezes, prestígio, dinheiro e outras concessões.<br />

Otinha parecia estar consciente da troca de bens simbólicos que fazia parte de<br />

sua atividade de pesquisa e contatos com o povo da seita. Esses eventuais es-<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, 119

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