Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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escrita <strong>de</strong> mais qualida<strong>de</strong> é a metodologia no encaminhamento da leitura do texto que<br />
fornecerá subsídios para a escrita do “novo” texto.<br />
110<br />
Dentre os vinte e três estagiários que solicitam produção <strong>de</strong> texto pela criança,<br />
78% apresentam comandos <strong>completa</strong>mente <strong>de</strong>svinculados <strong>de</strong> qualquer trabalho anterior ou<br />
posterior à complexa tarefa <strong>de</strong> escrever, o que transforma a escrita <strong>em</strong> um episódio<br />
<strong>de</strong>svinculado do trabalho pedagógico, não representando, <strong>de</strong>ssa forma, uma etapa <strong>de</strong> um<br />
processo mais amplo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento. Essa solicitação <strong>de</strong> escrita, que nasce e<br />
morre <strong>em</strong> vácuo instantâneo, contraria o que diz o poeta Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
(1986, p. 26), para qu<strong>em</strong> “escrever é lutar com palavras” e mesmo que o poeta afirme que<br />
“essa é a luta mais vã”, para entrar na luta é necessário “preparar o lutador”.<br />
Embora, entre os comandos <strong>de</strong> produção textual, não tenha sido encontrada<br />
nenhuma solicitação <strong>de</strong> produção textual com t<strong>em</strong>a livre, como era muito comum <strong>em</strong> outros<br />
momentos da história do ensino <strong>de</strong> língua portuguesa, enten<strong>de</strong>mos que apresentar um<br />
comando <strong>de</strong> produção textual ao aluno, s<strong>em</strong> nenhum trabalho prévio, seja, na verda<strong>de</strong>, uma<br />
variante, talvez piorada do famigerado t<strong>em</strong>a livre. Isto porque, quando o t<strong>em</strong>a é livre, o aluno<br />
po<strong>de</strong> pensar <strong>em</strong> quaisquer situações <strong>de</strong> seu cotidiano e escrever visando dar conta da tarefa<br />
<strong>de</strong>terminada pelo professor e, quando o t<strong>em</strong>a é equivocadamente consi<strong>de</strong>rado como<br />
conhecido pela criança, ela certamente tentará escrever somente para agradar ao professor,<br />
irrefletidamente, e s<strong>em</strong> se tornar sujeito <strong>de</strong> seu dizer; po<strong>de</strong>rá, ainda, escrever apenas para<br />
preencher espaço, como ver<strong>em</strong>os <strong>em</strong> produções que aten<strong>de</strong>m comandos <strong>de</strong>sse tipo. Sercun<strong>de</strong>s<br />
(1997) afirma que comandos <strong>de</strong> produção textual s<strong>em</strong> orientação prévia <strong>de</strong> leituras, exercícios<br />
e discussão do t<strong>em</strong>a po<strong>de</strong>m ser vistos como “escrita como dom”, uma vez que segu<strong>em</strong> um<br />
método <strong>de</strong> trabalho que prevê que a criança escreva apenas porque o t<strong>em</strong>a exigido circula no<br />
mundo social. Certamente, escreve melhor qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> dom e inspiração. A autora acrescenta<br />
que esse tipo <strong>de</strong> trabalho com a escrita leva a criança a acreditar que o ato <strong>de</strong> escrever consiste<br />
<strong>em</strong> simplesmente articular informações.<br />
Os 60% dos professorandos que, <strong>em</strong> nenhum momento, se ocupam com a<br />
produção textual no estágio, trabalham basicamente com ativida<strong>de</strong>s voltadas para exercícios<br />
<strong>de</strong> leitura que não chegaram à produção do texto, e usam o texto somente como pretexto para<br />
extrair palavras e frases aleatórias com o objetivo <strong>de</strong> aplicar regras <strong>de</strong> metalinguag<strong>em</strong><br />
gramatical, como ver<strong>em</strong>os no próximo capítulo. A contramão do trabalho com o texto nas<br />
aulas <strong>de</strong> estágio dos futuros professores que atuarão na docência das primeiras séries do<br />
Ensino Fundamental, seja quantitativa, seja qualitativamente, nos r<strong>em</strong>ete a Geraldi (1997), ao