Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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reconhecimento passivo <strong>de</strong> categorias estanques [...]. Pelo contrário, o ensino<br />
terá como foco, a enunciação, os processos <strong>de</strong> significação resultantes das<br />
relações entre o texto e suas condições <strong>de</strong> produção, e aí caberão ao aluno o<br />
uso produtivo dos recursos e possibilida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a lingüístico e a reflexão<br />
sobre eles.”<br />
Na perspectiva <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> língua materna que assume a língua como interação, o<br />
ensino da gramática busca, primordialmente, verificar como os recursos disponíveis na língua<br />
e os el<strong>em</strong>entos extra-verbais atuam no texto. Entretanto, Neves (1999), <strong>em</strong> pesquisa realizada<br />
sobre o ensino da gramática por professores do Ensino Fundamental e Médio, constata que a<br />
maioria dos professores pesquisados não enten<strong>de</strong>m a gramática como o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> regras da<br />
língua <strong>em</strong> funcionamento, mas como um conjunto <strong>de</strong> regras que permit<strong>em</strong> o bom uso da<br />
língua (gramática normativa) e/ou como a <strong>de</strong>scrição das entida<strong>de</strong>s lingüísticas e suas funções<br />
(gramática <strong>de</strong>scritiva).<br />
A análise dos exercícios trabalhados <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula realizada pela autora<br />
<strong>de</strong>monstra que mais <strong>de</strong> 70% <strong>de</strong>les são relativos ao reconhecimento e classificação das classes<br />
<strong>de</strong> palavras e funções sintáticas, ativida<strong>de</strong>s meramente metalingüísticas. Neves discorda <strong>de</strong>sse<br />
tipo <strong>de</strong> exercício, da mesma forma que Antunes (2007), autora que propõe um trabalho <strong>de</strong><br />
reflexão lingüística voltado para as observações e análises da linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> uso “nas<br />
condições <strong>de</strong> seu uso (da linguag<strong>em</strong>) e nos efeitos discursivos possibilitados pelo recurso a<br />
uma ou a outra regra.” (p.81).<br />
Neves (ibi<strong>de</strong>m) alerta que, <strong>em</strong> relação à língua <strong>em</strong> uso, as dificulda<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> geral,<br />
diz<strong>em</strong> respeito a uma incapacida<strong>de</strong> dos professores para avaliar a ativida<strong>de</strong> lingüística nas<br />
suas três dimensões: a dimensão discursiva (uma ativida<strong>de</strong> comunicativa), a dimensão<br />
s<strong>em</strong>ântica (uma ativida<strong>de</strong> cognitiva) e a dimensão sintática (um objeto <strong>de</strong> análise). Os<br />
professores do Ensino Fundamental e Médio até chegam a perceber, na maioria das vezes<br />
intuitivamente, que a ativida<strong>de</strong> lingüística t<strong>em</strong> essas dimensões, quando as traduz<strong>em</strong> como:<br />
redação, ativida<strong>de</strong> comunicativa que se relaciona à dimensão discursiva; leitura e<br />
interpretação, ativida<strong>de</strong> cognitiva que se relaciona à dimensão s<strong>em</strong>ântica; e gramática,<br />
ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise que se relaciona à dimensão sintática. Contudo, pelo fato <strong>de</strong> conceber<strong>em</strong><br />
a gramática como ativida<strong>de</strong> normativa e/ou ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritiva, acabam compartimentando o<br />
trabalho lingüístico e ensinando gramática, redação, leitura e interpretação <strong>de</strong> forma<br />
fragmentada, como se cada dimensão lingüística estivesse <strong>de</strong>sligada na língua <strong>em</strong> uso,<br />
po<strong>de</strong>ndo, conseqüent<strong>em</strong>ente, ser estudada separadamente.