Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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configura como um sist<strong>em</strong>a histórico e social que permite ao hom<strong>em</strong> significar o mundo e a<br />
socieda<strong>de</strong>. Seja sob a forma oral, escrita ou iconográfica, a língua constitui-se <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a<br />
capaz <strong>de</strong> possibilitar a expressão das intenções <strong>de</strong> seu usuário, o que ocorre por meio da<br />
interação, vista como base fundamental para a produção <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> enunciação.<br />
Bakthin (1992), ao expor sua visão <strong>de</strong> interação comunicativa, critica a maneira <strong>de</strong><br />
pensar sobre a língua mantida durante séculos: uma visão <strong>de</strong> língua que se resume <strong>em</strong> “um ato<br />
puramente individual, como uma expressão da consciência individual, <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos, suas<br />
intenções, seus impulsos criadores, seus gostos, etc.” (p.111). A expressão seria a<br />
exteriorização objetiva para outr<strong>em</strong>, ou para si mesmo, <strong>de</strong> tudo que é formado e <strong>de</strong>terminado<br />
<strong>de</strong> alguma maneira no psiquismo do indivíduo, ou seja, a formação da linguag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> acordo<br />
com a corrente filosófica negada pelo autor, se constitui a partir do interior do indivíduo.<br />
Contrariando essa posição, o estudioso da linguag<strong>em</strong> humana afirma que:<br />
Não é do interior, do mais profundo da personalida<strong>de</strong> que se tira a<br />
confiança individualista <strong>em</strong> si, a consciência do próprio valor, mas do<br />
exterior... A personalida<strong>de</strong> individual é tão socialmente estruturada como a<br />
ativida<strong>de</strong> mental do tipo coletivista. Assim, a personalida<strong>de</strong> que se<br />
exprime, apreendida, por assim dizer, do interior, revela-se um produto<br />
total da inter-relação social. A ativida<strong>de</strong> mental do sujeito constitui, da<br />
mesma forma que a expressão exterior, um território social. (BAKHTIN,<br />
1992, p.117).<br />
Para o autor, a linguag<strong>em</strong> não po<strong>de</strong> ser compreendida senão a partir do fenômeno<br />
da interação verbal, que constitui, fundamentalmente, a realida<strong>de</strong> da língua, uma vez que toda<br />
e qualquer enunciação é orientada pelo contexto social <strong>em</strong> que se estabelece, assim como<br />
pelos interlocutores a que se <strong>de</strong>stina o discurso. “A situação social mais imediata e o meio<br />
social mais amplo <strong>de</strong>terminam <strong>completa</strong>mente e, por assim dizer, a partir do seu próprio<br />
interior, a estrutura da enunciação.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 113). Portanto, a enunciação individual só<br />
po<strong>de</strong> ser concebida enquanto um fenômeno puramente sociológico, no qual a linguag<strong>em</strong> é<br />
consolidada <strong>em</strong> seu aspecto dialógico, na relação social e histórica <strong>de</strong> interação entre<br />
indivíduos.<br />
Em socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais como a nossa, o aspecto dialógico da linguag<strong>em</strong> parece<br />
ser muito forte na comunicação social; basta observar o número <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> teatro <strong>em</strong> forma<br />
<strong>de</strong> monólogo e <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> diálogo que conhec<strong>em</strong>os, (diálogo pensado aqui <strong>de</strong> forma<br />
restrita, ou seja, como troca <strong>de</strong> turno entre falantes). Obviamente que não estamos esquecendo<br />
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