Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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língua materna, a história, o sujeito e o contexto, pautando-se, no repasse <strong>de</strong> regras e na mera<br />
nomenclatura.<br />
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Eddy Roulet (1978: 01) escreve que “há, s<strong>em</strong> dúvida, tantas gramáticas<br />
tradicionais quanto gramáticos e manuais.” Para o autor, muitos dos manuais escolares<br />
“mo<strong>de</strong>rnos” não auxiliam no <strong>de</strong>senvolvimento da expressão oral e escrita, porque mantêm o<br />
tradicionalismo gramatical, que objetiva ensinar os alunos a construir orações corretas por<br />
meio <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> escritores clássicos, os quais se encontram <strong>completa</strong>mente dissociados<br />
da linguag<strong>em</strong> corrente. Isso justifica o <strong>de</strong>sinteresse dos alunos pela língua, uma vez que eles<br />
não vê<strong>em</strong> ligação prática entre o que apren<strong>de</strong>m e o que usam no cotidiano da comunicação.<br />
Para Fre<strong>de</strong>rico e Osakabe (2004), a atitu<strong>de</strong> normativista <strong>de</strong>svincula-se do discurso<br />
e centra-se no trabalho com frases ou palavras isoladas do contexto da ativida<strong>de</strong> humana. Essa<br />
atitu<strong>de</strong> t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> um período <strong>em</strong> que a concepção <strong>de</strong> Língua separava <strong>de</strong>finitivamente a<br />
oralida<strong>de</strong> e a escrita, concebendo a supr<strong>em</strong>acia absoluta <strong>de</strong>sta sobre aquela. Nesse momento, a<br />
pedagogia do certo e do errado encontra espaço profícuo na Escola Tradicional, que elege<br />
como mo<strong>de</strong>lo lingüístico as manifestações orais e escritas mais valorizadas<br />
socioculturalmente, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento das <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> uso da língua. Em outras palavras, a<br />
imposição da variante padrão que se convencionou aceitar como culta acarreta o menosprezo<br />
pelas numerosas variantes lingüísticas que serv<strong>em</strong> às diferentes instâncias da comunicação.<br />
Tal imposição é freqüent<strong>em</strong>ente justificada na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> uma<br />
unida<strong>de</strong> lingüística que viabilize a comunicação entre todos os falantes. Dessa forma, o<br />
probl<strong>em</strong>a do ensino tradicional <strong>de</strong> língua materna não está especificamente na eleição da<br />
variante padrão culta para o ensino, visto que, caso não fosse essa a variante eleita para se<br />
ensinar na escola, seria qualquer outra.<br />
Em nosso entendimento, o primeiro probl<strong>em</strong>a gerado pela imposição da norma<br />
padrão t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> no <strong>em</strong>bate existente entre as diferentes classes sociais, característico <strong>de</strong><br />
um país capitalista como o nosso. A escola, principalmente a pública, ao tentar ensinar a<br />
linguag<strong>em</strong> do opressor ao oprimido e <strong>de</strong>svalorizar a variante lingüística daquele que<br />
socialmente já se sente diminuído, afirma-lhe, indiretamente, que sequer sua forma <strong>de</strong><br />
comunicação é válida, o que provoca no falante uma profunda sensação <strong>de</strong> baixíssima estima.<br />
A esse respeito, Antunes (2007) alerta que: