Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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trabalho cognitivo, a criança <strong>de</strong>sloca-se do <strong>de</strong>senho e busca <strong>em</strong> sua m<strong>em</strong>ória um fato vivido<br />
que a marcou, para dar um sentido à gravura e, a partir daí, produzir um texto discursivo com<br />
algum significado para o autor. Em outros termos, a criança, mesmo s<strong>em</strong> o auxílio <strong>de</strong><br />
exercícios prévios à escrita, envolve-se com seus ditos e assume-se como sujeito daquilo que<br />
diz, aten<strong>de</strong>ndo indicação <strong>de</strong> Geraldi (1997) e evi<strong>de</strong>nciando que as inferências do leitor<br />
(abstratas, individuais e subjetivas) fornec<strong>em</strong> material para a escrita, b<strong>em</strong> como matizam <strong>de</strong><br />
forma idiossincrática os textos produzidos pela criança. Nesse caso a criança parece burlar a<br />
falta <strong>de</strong> orientação para a escrita, visto que, o que t<strong>em</strong> a dizer é algo vivenciado por ela e,<br />
<strong>de</strong>vido à importância que o episódio t<strong>em</strong> para o locutor, certamente ele acha que merece ser<br />
contado a outr<strong>em</strong>.<br />
121<br />
Essa análise, muito <strong>em</strong>bora indique certa autonomia da criança leitora-escritora,<br />
não exime o professor da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar um material <strong>de</strong> apoio para a produção<br />
textual, que realmente leve o aluno a realizar inferências capazes <strong>de</strong> influenciar positivamente<br />
sua produção escrita. Esses materiais, assim como o método (discussão do conteúdo a ser<br />
abordado no texto, finalida<strong>de</strong> do texto, indicação do interlocutor, busca do envolvimento do<br />
sujeito escritor e a escolha dos recursos formais e <strong>de</strong> conteúdo para elaboração do texto) são<br />
aspectos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser b<strong>em</strong> pensados, porque a qualida<strong>de</strong> dos textos produzidos na escola<br />
po<strong>de</strong> estar ligada tanto a probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m metodológica quanto ao material didático.<br />
Conforme constatamos, n<strong>em</strong> o <strong>de</strong>senho relacionado ao texto n<strong>em</strong> o <strong>de</strong>senho avulso<br />
acrescentam muito à produção escrita. Contudo, guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções, visto que<br />
no primeiro caso a criança está na primeira série e no segundo caso a criança está na quarta<br />
série, a qualida<strong>de</strong> do segundo texto é melhor, confirmando que o comando Escreva um<br />
diálogo po<strong>de</strong> ter podado a criativida<strong>de</strong> da criança e levado a uma escrita-cópia, com ligeiras<br />
marcas <strong>de</strong> autoria. Isso indica que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do material didático, o professor <strong>de</strong>ve<br />
estar b<strong>em</strong> preparado para escolher a metodologia a<strong>de</strong>quada para ensinar, pois estes são<br />
ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> que a metodologia adotada nos trabalhos faz a diferença no ensino<br />
aprendizag<strong>em</strong>, visto que, neste caso, as condições <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>fendidas por Geraldi (1997)<br />
também não foram observadas na preparação para a escrita (na verda<strong>de</strong> a preparação n<strong>em</strong><br />
existiu); entretanto, o pequeno escritor t<strong>em</strong> o que dizer, t<strong>em</strong> razões para dizer, visto que, é<br />
possível que ela tenha aproveitado a tarefa escolar para elaborar um <strong>de</strong>sabafo por culpar-se <strong>de</strong><br />
um aci<strong>de</strong>nte doméstico que o fez sofrer, e, assim, assume-se como sujeito do que diz, mesmo<br />
que esses dizeres fiqu<strong>em</strong> restritos ao interlocutor professor.