Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM
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afirmar que, no ensino <strong>de</strong> língua, “o texto escrito e oral é o ponto <strong>de</strong> partida e ponto <strong>de</strong><br />
chegada do processo <strong>de</strong> ensino/aprendizag<strong>em</strong>” porque, segundo o autor, “é no texto que a<br />
língua – objeto <strong>de</strong> estudos – se revela <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong>, quer enquanto conjunto <strong>de</strong> formas<br />
[...] quer enquanto discurso”(p. 135).<br />
111<br />
Do exposto, é possível <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que são poucos os professorandos que<br />
reconhec<strong>em</strong>, ainda <strong>de</strong> forma muito limitada, que a escola é o único espaço <strong>em</strong> que se ensina o<br />
aluno a escrever textos; mas é fora <strong>de</strong>la que as crianças são obrigadas a escrever por<br />
diferentes necessida<strong>de</strong>s e, muitas vezes, por exigência da própria escola, o que se constitui <strong>em</strong><br />
um contra-senso, visto que esta oferece poucos meios para que a criança <strong>de</strong>senvolva a escrita.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que a ausência <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> nos relatórios dos<br />
professorandos é significativa para nossa pesquisa, visto que aquilo que não aparece<br />
concretamente, que não po<strong>de</strong> ser contado estatisticamente, é carregado <strong>de</strong> significados,<br />
exatamente por sua ausência. A esse respeito, Garcez (1998), ao justificar pesquisa <strong>de</strong> cunho<br />
introspectivo, alerta que a hermenêutica psicanalítica mostra que a interpretação <strong>de</strong><br />
significados não-explícitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> do sujeito sobre suas próprias<br />
manifestações <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> e afirma que “tudo t<strong>em</strong> um sentido, principalmente as<br />
<strong>de</strong>ficiências, as falhas, as omissões, as alterações. O território estrangeiro interior dá-se a<br />
conhecer quando <strong>em</strong>erge num amplo contexto <strong>de</strong> articulações, envolvendo expressões verbais<br />
e outras formas <strong>de</strong> objetivações”(p. 70).<br />
Dessa forma, longe da rígida organização racionalista do mundo, acreditamos que<br />
seja possível ler, no hiato insólito <strong>de</strong>ixado pelo <strong>de</strong>sprezo ao trabalho com o ensino <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> texto durante o período <strong>de</strong> estágio, que a maioria dos professorandos não vê esse<br />
trabalho como uma ativida<strong>de</strong> voltada para a aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> língua, na qual é possível ao<br />
professor uma visualização mais concreta do grau <strong>de</strong> domínio pelo aluno/autor da linguag<strong>em</strong><br />
escrita. Por isso não consi<strong>de</strong>ram importante oferecer ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong> textos na sala, o<br />
que po<strong>de</strong> indicar uma reprodução do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> língua materna que lhes foi<br />
oferecido. Uma outra explicação para a ausência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que requeiram produção<br />
textual é que esse futuro professor não t<strong>em</strong> interesse <strong>em</strong> interferir na aprendizag<strong>em</strong> da criança,<br />
visto que o trabalho com o texto requer mais t<strong>em</strong>po e mais conhecimento do que quaisquer<br />
outras ativida<strong>de</strong>s, e conseqüent<strong>em</strong>ente requer maior <strong>de</strong>dicação do professor. Dessa maneira, o<br />
estagiário preenche o espaço t<strong>em</strong>poral <strong>em</strong> que é “obrigado” a atuar na prática docente da<br />
forma que lhe convém.