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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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‘Civilização’ era uma palavra <strong>de</strong>sconhecida <strong>de</strong> Voltaire, mas toda<br />

a sua obra se inscreve na perspectiva <strong>de</strong> uma história da<br />

humanida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong>, com seu trabalho, com sua arte,<br />

vence pouco a pouco, apesar das rupturas e d<strong>os</strong> recu<strong>os</strong>, a<br />

barbárie natural, inclusive a da própria natureza. Há sécul<strong>os</strong> para<br />

o gênio, para a criação, para a cultura, como o <strong>de</strong> Luís XIV, que<br />

são seguid<strong>os</strong> <strong>de</strong> sécul<strong>os</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes – como aquele <strong>em</strong> que vivia<br />

Voltaire – <strong>em</strong> que a cultura, espalhando-se e liquefazendo-se, vai<br />

penetrando na socieda<strong>de</strong> inteira, civilizando-a (LEPAPE, 1995, p.<br />

259).<br />

Como <strong>de</strong>staca Lepape, Voltaire utiliza-se da história para <strong>de</strong>monstrar que a<br />

França, até então centro <strong>de</strong> excelência da cultura e das artes, atravessava um<br />

período <strong>de</strong> trevas e barbárie. É a partir do passado que <strong>de</strong>ixa transparecer a<strong>os</strong><br />

seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> e concidadã<strong>os</strong> a situação <strong>de</strong> crise <strong>em</strong> que se encontrava a<br />

socieda<strong>de</strong> francesa. Também, tendo como foco o passado, <strong>sobre</strong>tudo <strong>os</strong><br />

moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> luzes da história francesa, retoma as virtu<strong>de</strong>s que, a seu ver,<br />

levaram seus antepassad<strong>os</strong> a conseguir atingir o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social<br />

por ele constatado. Assim, Voltaire passa a apregoar, para o presente, a<br />

retomada <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que p<strong>os</strong>sibilitaram à França <strong>de</strong> outrora ocupar o lugar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque entre as <strong>de</strong>mais nações européias.<br />

Com esse espírito, ele se ocupou da monarquia. Discutiu o reinado <strong>de</strong> Luís<br />

XV e as exigências <strong>de</strong> mudanças da socieda<strong>de</strong> francesa. Também se ocupou da<br />

<strong>de</strong>smistificação da história, m<strong>os</strong>trando as incoerências incorporadas pela tradição<br />

cristã. A partir <strong>de</strong> uma investigação histórica, pontuou as duas instituições que, a<br />

seu ver, monopolizavam o po<strong>de</strong>r político, reservando-o apenas o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />

cortesã.<br />

Ao refutar a influência da tradição cristã <strong>sobre</strong> a história afirma:<br />

O que mais aprecio <strong>em</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong> compiladores é a boa<br />

fé com que n<strong>os</strong> provam que tudo o que aconteceu outrora n<strong>os</strong><br />

maiores impéri<strong>os</strong> do mundo só aconteceu para instruir <strong>os</strong><br />

habitantes da Palestina. Se <strong>os</strong> reis da Babilônia, <strong>em</strong> suas<br />

conquistas, ca<strong>em</strong> <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o povo hebreu, é<br />

unicamente para corrigir <strong>os</strong> pecad<strong>os</strong> <strong>de</strong>ste povo. Se o Rei Ciro<br />

torna-se senhor da Babilônia, é para dar a<strong>os</strong> hebreus a<br />

permissão <strong>de</strong> retornar<strong>em</strong> a seu país. Se Alexandre vence Dario,<br />

é para estabelecer alfaiates <strong>em</strong> Alexandria. Quando <strong>os</strong> roman<strong>os</strong><br />

acrescentam a Síria ao seu vasto império e englobam o pequeno<br />

reino da Judéia, ainda é para instruir <strong>os</strong> ju<strong>de</strong>us. Os árabes e <strong>os</strong><br />

turc<strong>os</strong> vieram apenas para corrigir esse povo amável. É preciso<br />

admitir que recebeu uma excelente educação. Nunca se tiveram

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