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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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f<strong>os</strong>se queimada; por não ter reconhecido a Henrique III o direito<br />

<strong>de</strong> reinar, por ter excomungado, pr<strong>os</strong>crito, o gran<strong>de</strong> Henrique IV.<br />

Certamente não se irá investigar outras corporações do reino,<br />

que cometeram <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> excess<strong>os</strong> naqueles t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

frenesi: isso seria não apenas injusto, mas tão insensato como<br />

purgar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> habitantes <strong>de</strong> Marselha porque tiveram a peste<br />

<strong>em</strong> 1720. [...] O furor que inspiram o espírito dogmático e o abuso<br />

da religião cristã mal compreendida <strong>de</strong>rramou sangue, produziu<br />

<strong>de</strong>sastres tanto na Al<strong>em</strong>anha, na Inglaterra e mesmo na Holanda,<br />

como na França. Hoje, no entanto, a diferença das religiões não<br />

causa nenhum probl<strong>em</strong>a nesses Estad<strong>os</strong>; o ju<strong>de</strong>u, o católico, o<br />

grego, o luterano, o calvinista, o anabatista, o sociniano, o<br />

menonita, o morávio e tant<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> viv<strong>em</strong> como irmã<strong>os</strong> nesses<br />

países e contribu<strong>em</strong> igualmente para o b<strong>em</strong> da socieda<strong>de</strong><br />

(VOLTAIRE, 2000b, p. 22).<br />

Voltaire aponta para o fato <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminadas medidas e atitu<strong>de</strong>s da<br />

socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m até mesmo ser justificáveis <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong>, porém o que a<br />

história n<strong>os</strong> ensina é que, para outr<strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong>, são outr<strong>os</strong> <strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong>; ou seja,<br />

não po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> apenas querer repetir a história, precisam<strong>os</strong>, nas circunstâncias<br />

que t<strong>em</strong><strong>os</strong>, recriar com o que ela n<strong>os</strong> ensina. A história que n<strong>os</strong> ensina não se<br />

restringe à da própria socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>so t<strong>em</strong>po e lugar, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> também<br />

apren<strong>de</strong>r com outr<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> e socieda<strong>de</strong>s. Assim, Voltaire <strong>de</strong>staca que a França<br />

po<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com as nações vizinhas a prática da tolerância, uma vez que as<br />

mesmas enfrentaram, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> passad<strong>os</strong>, as mesmas situações advindas com<br />

a Reforma Religi<strong>os</strong>a e, no século XVIII, algumas viv<strong>em</strong> um clima <strong>de</strong> tolerância<br />

que p<strong>os</strong>sibilita o b<strong>em</strong> da própria socieda<strong>de</strong>.<br />

Chamam<strong>os</strong> a atenção também para o fato <strong>de</strong> que Voltaire n<strong>os</strong> alerta para o<br />

cuidado <strong>de</strong> não irm<strong>os</strong> à história com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar ou punir uma<br />

<strong>de</strong>terminada instituição. Segundo ele, <strong>os</strong> excess<strong>os</strong> cometid<strong>os</strong> <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

momento histórico não são exclusiv<strong>os</strong> <strong>de</strong>sta ou daquela instituição, mas da<br />

própria socieda<strong>de</strong>. Com isso, <strong>de</strong>staca o fato <strong>de</strong> a história tornar-se a gran<strong>de</strong><br />

mestra d<strong>os</strong> homens para a tolerância. S<strong>em</strong> ela, teríam<strong>os</strong> apenas con<strong>de</strong>nações <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas instituições, s<strong>em</strong> a atenção para as circunstâncias e o contexto no<br />

qual as mesmas realizaram <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong> excess<strong>os</strong>, “naqueles t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

frenesi”.<br />

A preocupação <strong>de</strong> Voltaire com a história não é algo exclusivo seu. Ernst<br />

Cassirer (1874-1945), filósofo al<strong>em</strong>ão <strong>em</strong> sua obra O mito do Estado, ao discutir o<br />

sentido da história para <strong>os</strong> autores do século XVIII, confirma a importância da

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