ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sucessor <strong>de</strong> Pedro p<strong>os</strong>sui, por concessão divina, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ligar<br />
e <strong>de</strong>sligar; e daí infer<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ab-rogar as leis e <strong>de</strong>cret<strong>os</strong> do<br />
Império e também o <strong>de</strong> promulgar leis e <strong>de</strong>cret<strong>os</strong> para a or<strong>de</strong>m<br />
t<strong>em</strong>poral. E assim resultaria estabelecida a tese da <strong>de</strong>pendência<br />
do po<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>poral (DANTE, 1973, p. 224).<br />
Esta é a tese <strong>de</strong> maior peso d<strong>os</strong> <strong>de</strong>cretalistas para justificar a <strong>de</strong>pendência<br />
do po<strong>de</strong>r Imperial <strong>em</strong> relação ao po<strong>de</strong>r da Igreja. Segundo ela, foi transmitida a<br />
Pedro toda autorida<strong>de</strong> seja <strong>sobre</strong> a Igreja seja <strong>sobre</strong> o Império.<br />
Segundo Dante (1973, pp. 224-225), <strong>de</strong> fato, Cristo <strong>de</strong>u a Pedro po<strong>de</strong>res<br />
para exercer o ofício <strong>de</strong> zelar pel<strong>os</strong> fiéis, mas isso não quer dizer que a locução<br />
“tudo quanto” <strong>de</strong>va ser entendida <strong>em</strong> sentido absoluto, pois isto daria a Pedro e<br />
a<strong>os</strong> papas, seus sucessores, po<strong>de</strong>res superiores ao do próprio Deus.<br />
Dante analisa também outro argumento bastante utilizado: “[...] aduz<strong>em</strong>-se<br />
as palavras <strong>de</strong> Pedro a Cristo no livro <strong>de</strong> Lucas (Lc 22,38): ‘Eis aqui dois gládi<strong>os</strong>’;<br />
e afirma-se que estes dois gládi<strong>os</strong> significam duas jurisdições, as quais Pedro<br />
disse que estavam on<strong>de</strong> estava [...]” (DANTE, 1973, p. 225).<br />
Segundo Dante, <strong>de</strong>u-se um sentido alegórico à fala <strong>de</strong> Pedro, ou seja,<br />
atribuiu-se um sentido que extrapola o que Pedro falara a Cristo. “[...] Pedro, <strong>de</strong><br />
c<strong>os</strong>tume respondia espontaneamente, atento à superfície das coisas” (DANTE,<br />
1973, p. 225), ou seja, não era do estilo <strong>de</strong> Pedro falar <strong>de</strong> forma figurada e<br />
interpretativa, mas, como hom<strong>em</strong> prático que era, falava <strong>de</strong> coisas relacionadas<br />
ao seu cotidiano.<br />
Assim, a preocupação <strong>de</strong> Dante é m<strong>os</strong>trar que o po<strong>de</strong>r imperial é distinto e<br />
diferente do po<strong>de</strong>r da Igreja e, por isso mesmo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. É nesse sentido<br />
que po<strong>de</strong> ser entendida sua conclu<strong>de</strong>nte afirmação: “[...] que a autorida<strong>de</strong> da<br />
Igreja não seja a causa da autorida<strong>de</strong> imperial, é uma verda<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>monstra<br />
como segue: não é causa dum efeito que p<strong>os</strong>sa existir ou não agir s<strong>em</strong> que por<br />
isso cesse a força do efeito” (DANTE, 1973, p. 229). Com isso, ele evi<strong>de</strong>ncia a<br />
existência <strong>de</strong> amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> po<strong>de</strong>res como distint<strong>os</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e necessári<strong>os</strong><br />
para que haja or<strong>de</strong>m e segurança. Ou seja, cada um <strong>de</strong>ve se ocupar com o que<br />
lhe é <strong>de</strong> direito e conforme sua existência, faculda<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong>.<br />
Essa discussão <strong>de</strong> Dante <strong>sobre</strong> Monarquia e a Igreja como po<strong>de</strong>res<br />
distint<strong>os</strong> e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, cada um com sua função específica a ser exercida <strong>em</strong><br />
benefício da socieda<strong>de</strong>, aparece <strong>de</strong> certa forma <strong>em</strong> Voltaire, no século XVIII. Este