ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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pois “[...] o que não está na natureza nunca é verda<strong>de</strong>iro” (VOLTAIRE, 2007a, p.<br />
78).<br />
Porém, se essa discussão e enfoque da história são muito presentes no<br />
século XVIII, precisam<strong>os</strong> atentar para o que n<strong>os</strong> alerta Isaiah Berlin, <strong>em</strong> um<br />
<strong>ensaio</strong> <strong>sobre</strong> Her<strong>de</strong>r, no qual apresenta o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa nova forma <strong>de</strong><br />
fazer história, <strong>de</strong>monstrando que suas raízes antece<strong>de</strong>m o século XVIII francês.<br />
A tese <strong>de</strong> Her<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que o t<strong>em</strong>a próprio das ciências sociais é a<br />
vida das comunida<strong>de</strong>s, e não as proezas <strong>de</strong> indivídu<strong>os</strong> –<br />
estadistas, soldad<strong>os</strong>, reis, dinastias, aventureir<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong><br />
homens fam<strong>os</strong><strong>os</strong> -, fora formulada por Voltaire, Hume e<br />
Montesquieu, por Schlözer e Gatterer, e antes <strong>de</strong>les por<br />
historiadores franceses do século XVI e no início do XVII, e com<br />
incomparável imaginação e originalida<strong>de</strong> por Vico (BERLIN,<br />
2002, p. 381).<br />
O foco da história passou a ser não mais as proezas d<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>, mas a<br />
vida das comunida<strong>de</strong>s. Ao tratar<strong>em</strong> <strong>de</strong> indivídu<strong>os</strong>, como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>os</strong> reis, o<br />
faz<strong>em</strong> com a preocupação <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar<strong>em</strong> suas ações <strong>em</strong> relação ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>.<br />
Ao <strong>de</strong>stacar o interesse d<strong>os</strong> autores franceses do século XVIII pela história,<br />
Tocqueville comenta que o foco <strong>de</strong> interesse d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> passou a ser tudo o<br />
que se referia ao governo.<br />
A França é, há muito t<strong>em</strong>po, a mais literária <strong>de</strong> todas as nações<br />
da Europa. Contudo, <strong>os</strong> homens <strong>de</strong> letras da França jamais<br />
haviam dado m<strong>os</strong>tras do espírito que trouxeram à luz <strong>em</strong> mead<strong>os</strong><br />
do século XVIII, n<strong>em</strong> ocupado o lugar que então ocuparam. [...]<br />
[...] Ocupavam-se constant<strong>em</strong>ente das matérias que afetam ao<br />
governo. Na realida<strong>de</strong> esta era a sua verda<strong>de</strong>ira ocupação.<br />
Podia-se ouvi-l<strong>os</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias, a dissertar <strong>sobre</strong> a orig<strong>em</strong> das<br />
socieda<strong>de</strong>s e <strong>sobre</strong> suas formas primitivas, <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> direit<strong>os</strong><br />
primordiais d<strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong> e <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> da autorida<strong>de</strong>, <strong>sobre</strong><br />
as relações naturais e artificiais do homens (sic) entre si, <strong>sobre</strong> o<br />
engano ou a legitimida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes e <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> própri<strong>os</strong><br />
princípi<strong>os</strong> das leis. Assim, penetravam cada dia até <strong>os</strong><br />
fundament<strong>os</strong> da constituição <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, examinando com<br />
atenção sua estrutura e criticando seu plano geral. É certo que<br />
n<strong>em</strong> tod<strong>os</strong> faziam <strong>de</strong>stes gran<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as o objeto <strong>de</strong> um<br />
estudo particular e aprofundado e a maior parte só <strong>os</strong> tocava <strong>de</strong><br />
passag<strong>em</strong> como se f<strong>os</strong>se por divertimento. Mas tod<strong>os</strong> passavam<br />
por eles. Esta espécie <strong>de</strong> política abstrata e literária se<br />
encontrava <strong>em</strong> d<strong>os</strong>es <strong>de</strong>siguais <strong>em</strong> todas as obras da época.<br />
Não há nenhuma, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pesado tratado até a canção, que não<br />
contenha um pouco <strong>de</strong>ste espírito.