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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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sua crítica é muito contun<strong>de</strong>nte para a época, p<strong>os</strong>to que ainda o<br />

Oci<strong>de</strong>nte era um Estado cristão. S<strong>em</strong>elhante crítica seria<br />

impensável no início do século XIII. Contudo, a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma crítica tão radical já n<strong>os</strong> dá indíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> que a Igreja está<br />

per<strong>de</strong>ndo muito da sua força <strong>sobre</strong> a socieda<strong>de</strong> e que <strong>os</strong> vent<strong>os</strong><br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> já apontam para uma nova direção, a da<br />

superação da universalida<strong>de</strong> cristã (OLIVEIRA, 2005, p. 45).<br />

Segundo Oliveira, a obra <strong>de</strong> Marsílio precisa ser consi<strong>de</strong>rada não só como<br />

a <strong>de</strong> um mestre da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, mas também pela época <strong>em</strong> que foi<br />

escrita. Nesse momento, o po<strong>de</strong>r papal enfrentava um contrapeso que, <strong>de</strong> certa<br />

forma, ainda não era uma realida<strong>de</strong> n<strong>os</strong> dias <strong>de</strong> Dante, momento <strong>em</strong> que o po<strong>de</strong>r<br />

papal era capaz <strong>de</strong> subjugar <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais soberan<strong>os</strong>.<br />

A tese <strong>de</strong> Marsílio reafirmava as acusações <strong>de</strong> Ludovico a João XXII, b<strong>em</strong><br />

como evi<strong>de</strong>nciava as pretensões do papa como lesivas a tod<strong>os</strong>, f<strong>os</strong>s<strong>em</strong> ou não<br />

cristã<strong>os</strong>. A tese que ele coloca <strong>em</strong> pauta é a paz.<br />

‘Todo reino <strong>de</strong>ve buscar a tranqüilida<strong>de</strong>, pois ela proporciona o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da população e salvaguarda o interesse das<br />

nações. De fato, a paz é a causa total da beleza, das artes e das<br />

ciências. É ela que, multiplicando a raça d<strong>os</strong> mortais, mediante<br />

uma sucessão regenerada, aperfeiçoa as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s e cultiva<br />

<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes, sugerindo-n<strong>os</strong> a idéia <strong>de</strong> que o ignorante<br />

<strong>de</strong>sconhece tais bens porque jamais <strong>os</strong> procurou’ [...].<br />

Quando Cassiodoro expôs na primeira <strong>de</strong> suas cartas, que<br />

acabam<strong>os</strong> <strong>de</strong> citar, as vantagens e <strong>os</strong> frut<strong>os</strong> da tranqüilida<strong>de</strong>, isto<br />

é, da paz, no seio das socieda<strong>de</strong>s civis, explicando que <strong>os</strong><br />

mesm<strong>os</strong>, na medida <strong>em</strong> que são <strong>os</strong> melhores, constitu<strong>em</strong> o b<strong>em</strong><br />

supr<strong>em</strong>o do hom<strong>em</strong>, esforçou-se para n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>trar que a<br />

tranqüilida<strong>de</strong> proveniente da paz se torna difícil <strong>de</strong> alcançar, a<br />

men<strong>os</strong> que batalh<strong>em</strong><strong>os</strong> ao máximo para consegui-la e cultivá-la<br />

nas relações humanas sob toda e qualquer circunstância<br />

(MARSÍLIO DE PÁDUA, 1997, p. 67).<br />

A obra, O <strong>de</strong>fensor da paz, está dividida <strong>em</strong> três partes. A primeira, que<br />

contém <strong>de</strong>zoito capítul<strong>os</strong>, esten<strong>de</strong>-se da página 65 a 205. A segunda, com trinta<br />

capítul<strong>os</strong>, vai da página 207 a 686. Finalmente, a terceira parte, comp<strong>os</strong>ta <strong>de</strong><br />

apenas três capítul<strong>os</strong>, esten<strong>de</strong>-se da pagina 687 a 701. Para discutir sua tese,<br />

Marsílio se utiliza, <strong>em</strong> toda a primeira parte, <strong>de</strong> argument<strong>os</strong> fil<strong>os</strong>ófic<strong>os</strong>, ou seja,<br />

restringe-se à fil<strong>os</strong>ofia para construir sua argumentação <strong>de</strong> que o gran<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pecilho para a paz é a plenitu<strong>de</strong> do potestatis, ou seja, a pretensão <strong>de</strong><br />

plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte do Papado. Na segunda parte da obra, recorre à<br />

tradição da Igreja, a<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> teológic<strong>os</strong> e jurídic<strong>os</strong> e, com base neles,

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