ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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Babilônia ou a antropofagia <strong>de</strong> certas trib<strong>os</strong> americanas. Mas o<br />
século XVIII precisava passar ao crivo tantas relações<br />
extravagantes, <strong>de</strong>mais facilmente aceitas, como por ex<strong>em</strong>plo, por<br />
Montesquieu. Voltaire <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> contra as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do coração,<br />
as fabulações do sentimento que po<strong>de</strong>m ser <strong>em</strong>pregadas à<br />
imaginação (POMEAU, 1966, p. 68 - tradução n<strong>os</strong>sa). 5<br />
As questões que Voltaire aponta <strong>em</strong> Montesquieu estão relacionadas à<br />
aceitação das fontes. Mesmo tendo usado algumas idéias <strong>de</strong> Montesquieu, ele<br />
discute algumas <strong>de</strong> suas teses, contestando a aceitação ou negação das fontes<br />
utilizadas. Importante <strong>de</strong>stacar que, tanto para Voltaire quanto para <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais<br />
autores do século XVIII, era preciso superar as “relações extravagantes” outrora<br />
aceitas, pois “[...] distingu<strong>em</strong>-se <strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> <strong>em</strong> fabul<strong>os</strong><strong>os</strong> e históric<strong>os</strong>. Mas <strong>os</strong><br />
históric<strong>os</strong> <strong>de</strong>veriam ser distinguid<strong>os</strong>, por sua vez, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>s e fábulas<br />
(VOLTAIRE, 2007, pp. 17-18).<br />
Na verda<strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> tentativa d<strong>os</strong> autores do século XVIII era<br />
<strong>de</strong>smistificar a história fabul<strong>os</strong>a, ou seja, diferenciar o t<strong>em</strong>po histórico e as<br />
fábulas, as quais, segundo <strong>os</strong> autores, ainda impregnavam a história. Para<br />
Voltaire, a história <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha um papel educativo, pois apresenta a<strong>os</strong> homens<br />
que a socieda<strong>de</strong> foi o resultado <strong>de</strong> suas ações. Somente o conhecimento do<br />
passado lhes daria consciência do que é preciso conservar ou do que é<br />
necessário transformar.<br />
Pomeau alerta para a importância do Ensaio <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes,<br />
especialmente para o papel que a história assume nessa obra <strong>de</strong> Voltaire:<br />
A história forneceu um argumento <strong>de</strong> peso a Voltaire. S<strong>em</strong><br />
disparates tudo fizera, com a intenção <strong>de</strong> dar uma importância<br />
mínima a<strong>os</strong> escrit<strong>os</strong> do Aba<strong>de</strong> Dub<strong>os</strong> e do Senhor Harvey: o<br />
Século <strong>de</strong> Luís XIV está presente como um sujeito que gaba-se a<br />
si mesmo. Em seguida, Voltaire abraçou o projeto <strong>de</strong> seu Ensaio<br />
<strong>sobre</strong> <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes (1741), tendo consciência da realida<strong>de</strong> global<br />
5 «Les <strong>de</strong>ux ouvrages ne procè<strong>de</strong>nt pas <strong>de</strong> la même métho<strong>de</strong>: Le Siècle <strong>de</strong> Louis XIV fut écrit sur<br />
documents, et l´Essai ne pouvait être qu´une synthèse <strong>de</strong> secon<strong>de</strong> main. Mais, dans l´un et dans<br />
l´autre, Voltaire élimine raisonnabl<strong>em</strong>ent prodiges surhumain comme à la méchanceté inhumaine,<br />
quand ils ne sont pas prouvés pér<strong>em</strong>ptoir<strong>em</strong>ent par les documents. Il lui arrive <strong>de</strong> se tromper,<br />
parce que le vrai n´est pas toujours vrais<strong>em</strong>blable. Sa ‘phil<strong>os</strong>ophie’ l´égare, lorqu´il met en doute la<br />
pr<strong>os</strong>tituition sacrée <strong>de</strong> Babylone ou l´anthropophagie <strong>de</strong> certaines tribus ‘amériquaines’. Mais, au<br />
XVIII e siècle, il était plus nécessaire <strong>de</strong> passer au crible tant <strong>de</strong> relations extravagentes, trop<br />
aisémente accueillies, par ex<strong>em</strong>ple par un Montesquieu. Voltaire, en gar<strong>de</strong> contre les égar<strong>em</strong>entes<br />
du couer, sait dans quelles fabulations le sentiment peut engager l´imagination» (POMEAU, 1966,<br />
p. 68).