ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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A importância <strong>de</strong>ssa obra é sua abrangência: o autor estuda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
história d<strong>os</strong> chineses até a época <strong>de</strong> Luís XIV, não se restringindo apenas à<br />
história européia. Isso porque, segundo Voltaire, “[...] para nós, o mais<br />
interessante é a sensível diferença entre as espécies <strong>de</strong> homens que povoam as<br />
quatro partes conhecidas do n<strong>os</strong>so mundo” (VOLTAIRE, 2007a, p. 41). Seu<br />
objetivo é <strong>de</strong>monstrar que as socieda<strong>de</strong>s precisam ser entendidas a partir da<br />
história.<br />
Para que uma nação se reúna <strong>em</strong> corpo <strong>de</strong> povo, seja po<strong>de</strong>r<strong>os</strong>a,<br />
aguerrida, culta, é necessário um t<strong>em</strong>po prodigi<strong>os</strong>o. [...] É<br />
necessário um concurso <strong>de</strong> circunstâncias favoráveis durante<br />
sécul<strong>os</strong> para que se torne uma gran<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> homens<br />
reunid<strong>os</strong> sob as mesmas leis; elas são necessárias até mesmo<br />
para formar uma linguag<strong>em</strong>. Os homens não articulariam se não<br />
lhes ensinass<strong>em</strong> a pronunciar palavras; só soltariam grit<strong>os</strong><br />
confus<strong>os</strong>, só se fariam enten<strong>de</strong>r por sinais (VOLTAIRE, 2007a,<br />
pp. 45-46).<br />
A história é abordada por Voltaire como um processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> d<strong>os</strong><br />
homens, ao longo do t<strong>em</strong>po, na construção <strong>de</strong> suas vidas. As socieda<strong>de</strong>s, para se<br />
constituír<strong>em</strong>, precisaram <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po prodigi<strong>os</strong>o, segundo Voltaire, mas <strong>os</strong><br />
homens contaram também com circunstâncias favoráveis, as quais, juntamente<br />
com seu trabalho, tornaram p<strong>os</strong>sível a formulação das leis, para o que foi<br />
imprescindível o <strong>de</strong>senvolvimento da linguag<strong>em</strong>.<br />
Voltaire “[...] concebe a história como conhecimento que avança, porque<br />
cada geração po<strong>de</strong> se apoiar na experiência das antecessoras” (Lopes, 2001b, p.<br />
66). A linguag<strong>em</strong> ocupa lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque porque p<strong>os</strong>sibilita a<strong>os</strong> homens a<br />
transmissão <strong>de</strong> suas experiências. Reiteram<strong>os</strong> aqui a importância que ele dá à<br />
aprendizag<strong>em</strong> realizada por meio da história. Esta ocupa um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />
também entre outr<strong>os</strong> autores do século XVIII, ao lado da necessida<strong>de</strong> da<br />
educação para o próprio <strong>de</strong>senvolvimento do humano, pois “[...] a natureza é <strong>em</strong><br />
toda parte a mesma” (VOLTAIRE, 2007a, p. 54).<br />
Assim, uma vez que as socieda<strong>de</strong>s se constituíram mediante a intervenção<br />
d<strong>os</strong> homens na natureza, elas só po<strong>de</strong>m ser entendidas e explicadas pelo<br />
conhecimento da história. Ela é que explica e p<strong>os</strong>sibilita a existência das<br />
diferentes socieda<strong>de</strong>s.