14.04.2013 Views

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um rei civilizador. Em Eric ressalta seu talento <strong>de</strong> legislador, uma<br />

vez que <strong>os</strong> verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> conquistadores são <strong>os</strong> que sab<strong>em</strong> fazer<br />

leis (LOPES, 2004, p. 106).<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que as virtu<strong>de</strong>s exigidas d<strong>os</strong> governantes não são<br />

absolutas, mas relacionam-se s<strong>em</strong>pre ao contexto no qual governam. Voltaire<br />

percebe que as virtu<strong>de</strong>s não são absolutas e que é preciso ao governante o<br />

entendimento <strong>de</strong> sua época e socieda<strong>de</strong>. Ou seja, o que é virtu<strong>de</strong> <strong>em</strong> moment<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> expansão e conquista, por ex<strong>em</strong>plo, não o é quando a socieda<strong>de</strong> está<br />

constituída. Po<strong>de</strong>-se perceber que é porque <strong>os</strong> t<strong>em</strong>p<strong>os</strong> são nov<strong>os</strong> que Voltaire<br />

discute com seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas virtu<strong>de</strong>s para o<br />

governante. Ao fazê-lo, põe <strong>em</strong> pauta o comportamento d<strong>os</strong> governantes <strong>de</strong> sua<br />

época, que, a seu ver, não po<strong>de</strong>m simplesmente reproduzir o que fizeram seus<br />

antecessores porque as mudanças <strong>em</strong> curso na França exig<strong>em</strong> <strong>de</strong>les novo<br />

p<strong>os</strong>icionamento e, <strong>sobre</strong>tudo, esclarecimento para, <strong>em</strong> primeiro lugar, perceber a<br />

socieda<strong>de</strong> e seus conflit<strong>os</strong> e, <strong>em</strong> segundo, agir <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com <strong>os</strong><br />

probl<strong>em</strong>as que realmente interfer<strong>em</strong> na vida <strong>de</strong> seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong>.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo, ao interpretar o governo <strong>de</strong> Luís IX (1214-1270), procura<br />

fazê-lo <strong>em</strong> seu contexto, com as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s e probl<strong>em</strong>as enfrentad<strong>os</strong> por ele.<br />

Voltaire t<strong>em</strong> o cuidado <strong>de</strong> não avaliá-lo com base nas circunstâncias e<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s da França setecentista. Comenta o reinado <strong>de</strong> Luís IX, 1226 a<br />

1270, <strong>de</strong>stacando o respeito a que fez jus por ser um rei virtu<strong>os</strong>o. Isso porque<br />

soube conciliar a política com a justiça. A ressalva <strong>de</strong> Voltaire é a <strong>de</strong> que lhe<br />

faltou ouvir a voz da razão, o que, porém, não diminui sua gran<strong>de</strong>za enquanto<br />

governante.<br />

Luís IX parecia <strong>de</strong>stinado a reformar a Europa, se tal tivesse sido<br />

p<strong>os</strong>sível; a tornar a França glori<strong>os</strong>a e civilizada, e a ser <strong>em</strong> tudo o<br />

mo<strong>de</strong>lo d<strong>os</strong> homens. Sua pieda<strong>de</strong>, que era a <strong>de</strong> um anacoreta,<br />

não o impedia <strong>de</strong> p<strong>os</strong>suir todas as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> governante;<br />

uma sábia economia não se tornou incompatível com a sua<br />

liberalida<strong>de</strong>. Soube conciliar uma política sagaz com uma justiça<br />

rigor<strong>os</strong>a, e talvez seja o único soberano a merecer este elogio<br />

[...]. Se o entusiasmo pelas cruzadas e a crença n<strong>os</strong> jurament<strong>os</strong><br />

houvess<strong>em</strong> permitido ao virtu<strong>os</strong>o soberano escutar a razão, não<br />

sòmente teria ele visto o mal que fazia ao país, com tais gast<strong>os</strong>,<br />

como a injustiça extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> tal <strong>em</strong>preendimento, que lhe parecia<br />

justo (VOLTAIRE, 1958b, pp. 125-127).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!