ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...
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história e as condições <strong>de</strong> que aqueles homens dispunham para estudá-la. Os<br />
homens do século XVIII<br />
[...] tinham uma i<strong>de</strong>ia clara acerca da importância do<br />
conhecimento histórico [só que] não dispunham ainda <strong>de</strong>ssa<br />
enorme massa <strong>de</strong> material histórico que <strong>de</strong>pois se acumulou. [...]<br />
Homens como Hume, Gibbon, Robertson, Montesquieu e Voltaire<br />
não po<strong>de</strong>m ser acusad<strong>os</strong> <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> interesse e <strong>de</strong> sentido<br />
histórico. No seu Siècle <strong>de</strong> Louis XIV e no seu Essai sur les<br />
mouers, Voltaire criou um tipo <strong>de</strong> história da civilização<br />
(CASSIRER, 196?, p. 224).<br />
Segundo Cassirer, a busca por uma história diferente justifica-se pela<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentamento d<strong>os</strong> autores do século XVIII <strong>em</strong> face do Antigo Regime,<br />
já que “[...] a história po<strong>de</strong> ensinar-n<strong>os</strong> muitas coisas, mas sòmente aquilo que foi,<br />
e não aquilo que <strong>de</strong>ve ser” (CASSIRER, 196?, p. 225). Como seus interlocutores<br />
eram <strong>os</strong> que produziam uma história favorável a Monarquia e Igreja, ambas as<br />
instituições que significavam para esses autores a própria representação do<br />
Antigo Regime, eles consi<strong>de</strong>ravam que<br />
[...] aceitar o seu veredicto como infalível e <strong>de</strong>finitivo é um ultraje<br />
à majesta<strong>de</strong> da razão. Se a história significava uma glorificação<br />
do passado, uma confirmação do ancien règime, estava no<br />
enten<strong>de</strong>r d<strong>os</strong> “filósof<strong>os</strong>”, da Gran<strong>de</strong> Enciclopédia, amaldiçoada<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio. Para eles não podia p<strong>os</strong>suir qualquer interesse<br />
teorético porque carecia <strong>de</strong> um real valor ético (CASSIRER,<br />
196?, p. 225).<br />
O estudo que faziam da história tinha uma finalida<strong>de</strong> imediata, ou seja,<br />
discutir a situação da socieda<strong>de</strong> francesa no presente. É nesse sentido que “[...]<br />
Viam nela um guia <strong>de</strong> acção, uma bússola que podia conduzi-l<strong>os</strong> no futuro a um<br />
melhor estado da socieda<strong>de</strong> humana” (CASSIRER, 196?, p. 225).<br />
O que quer<strong>em</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong>stacar aqui não é a história como o lócus da discussão<br />
política, mas a necessida<strong>de</strong> e a finalida<strong>de</strong> da mesma para o processo educativo.<br />
Para Voltaire, assim como para <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais autores, a história p<strong>os</strong>sibilitaria à<br />
socieda<strong>de</strong> francesa superar sua situação <strong>de</strong> conflit<strong>os</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>smand<strong>os</strong>, por que<br />
ela oferecia condições para isso não f<strong>os</strong>se interpretado como algo natural à<br />
própria França. Da mesma forma, era fundamental romper com a explicação que<br />
atribuía <strong>os</strong> feit<strong>os</strong> human<strong>os</strong> a uma intervenção divina, a ação da providência, pois<br />
só assim <strong>os</strong> homens po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>snaturalizar as relações sociais estabelecidas,