14.04.2013 Views

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

No século XVIII, não se percebe mais uma disputa direta entre o po<strong>de</strong>r<br />

t<strong>em</strong>poral e o po<strong>de</strong>r religi<strong>os</strong>o, entre o papa e <strong>os</strong> reis, pelo men<strong>os</strong> no cenário<br />

francês.<br />

[...] <strong>os</strong> juristas franceses mais oficiais s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>braram que a<br />

legitimida<strong>de</strong> real acompanha-se inevitavelmente <strong>de</strong> uma<br />

legalida<strong>de</strong> das instituições e d<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes, na qual o monarca<br />

não po<strong>de</strong> tocar. E, se se afirma a regra Princeps legibus solutus<br />

est (o Príncipe está <strong>de</strong>sobrigado das leis), é men<strong>os</strong> para<br />

submeter <strong>os</strong> súdit<strong>os</strong> à arbitrarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um só do que para<br />

afirmar, na falta <strong>de</strong> coisa melhor diante do imobilismo d<strong>os</strong><br />

Parlament<strong>os</strong>, o direito do soberano à iniciativa <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong><br />

Po<strong>de</strong>r Legislativo, tal como o exig<strong>em</strong> as necessida<strong>de</strong>s cotidianas<br />

da mudança social, mesmo mo<strong>de</strong>rada. Mas <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong><br />

tirânica, nada. Ao men<strong>os</strong> como princípio. De direito, <strong>os</strong><br />

governad<strong>os</strong> têm sua palavra a dizer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não saiam do<br />

quadro da lei; basta-lhes exaltar esta última, para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong><br />

seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong> seus bens (LADURIE, 1994, p. 13).<br />

A questão para <strong>os</strong> pensadores do século XVIII tinha se <strong>de</strong>slocado para a<br />

Monarquia Absoluta, ou seja, para enten<strong>de</strong>r o que teria ocorrido ao longo d<strong>os</strong><br />

últim<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> a ponto <strong>de</strong> atribuir tal po<strong>de</strong>r ao monarca. Segundo <strong>os</strong> autores que<br />

escreveram nesse momento, a legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r está diretamente<br />

relacionada à sua relação com as instituições, ou seja, o po<strong>de</strong>r do soberano é<br />

legítimo quando garante a legalida<strong>de</strong> das instituições e d<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes. Isso, <strong>de</strong><br />

certa forma, equivale a<strong>os</strong> argument<strong>os</strong> apresentad<strong>os</strong> por João Quidort, Dante e<br />

Marsílio <strong>de</strong> Pádua.<br />

A diferença entre <strong>os</strong> pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> d<strong>os</strong> autores do século XIV e <strong>os</strong> do<br />

século XVIII está no fato <strong>de</strong> não mais se admitir a orig<strong>em</strong> divina do po<strong>de</strong>r.<br />

Enquanto, no século XIV, não era p<strong>os</strong>sível ainda <strong>de</strong>svincular a realida<strong>de</strong> humana<br />

da explicação teológica, no século XVIII, o <strong>em</strong>bate se dá justamente para negar e<br />

retirar da explicação do hom<strong>em</strong> e da natureza qualquer marca ou sinal que<br />

extrapole a própria realida<strong>de</strong>. Mesmo que se admita Deus, sua existência não t<strong>em</strong><br />

qualquer interferência no funcionamento da natureza e, <strong>sobre</strong>tudo, da socieda<strong>de</strong>.<br />

De acordo com Di<strong>de</strong>rot & D´Al<strong>em</strong>bert (2006, p. 37), o po<strong>de</strong>r político advém<br />

<strong>de</strong> duas fontes – força/violência ou consenso. No cenário <strong>de</strong> crise da socieda<strong>de</strong><br />

francesa, na segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII, ao afirmar<strong>em</strong> isso, eles acenam<br />

para o caráter ilegítimo do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Luís XVI, que já não conta com o consenso<br />

da socieda<strong>de</strong> francesa. É importante <strong>de</strong>stacar que essas idéias vão ganhando

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!