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ensaio sobre os costumes - Programa de Pós-graduação em ...

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O que Voltaire consi<strong>de</strong>ra na História <strong>de</strong> Carl<strong>os</strong> XII po<strong>de</strong>-se afirmar que seja<br />

a tônica <strong>de</strong> suas obras históricas. Ele se preocupa <strong>em</strong> romper com uma tradição<br />

histórica que não lhe serve mais pelo simples fato <strong>de</strong> que afirma e reforça as<br />

estruturas sociais que eram o lócus d<strong>os</strong> conflit<strong>os</strong> advind<strong>os</strong> com as mudanças<br />

ocorridas na socieda<strong>de</strong> francesa. São outr<strong>os</strong> <strong>os</strong> valores com <strong>os</strong> quais Voltaire e<br />

seus cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> se <strong>de</strong>bat<strong>em</strong> e precisam afirmar e discutir.<br />

Voltaire alerta para o fato <strong>de</strong> que, ao observar <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes d<strong>os</strong> príncipes,<br />

julgam-se também <strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes e as ações da população. Ao se referir a<strong>os</strong><br />

príncipes, ele m<strong>os</strong>tra suas ações e c<strong>os</strong>tumes como reflexo <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po e<br />

cultura. Diz a esse respeito:<br />

A curi<strong>os</strong>ida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> homens, que penetra na vida particular d<strong>os</strong><br />

príncipes, quis saber até o último <strong>de</strong>talhe da vida <strong>de</strong> Carl<strong>os</strong><br />

Magno e até ao segredo d<strong>os</strong> seus prazeres. Escreveu-se que ele<br />

p<strong>os</strong>suíra o amor das mulheres até mesmo <strong>de</strong>leitara-se com suas<br />

próprias filhas. Fala-se a mesma coisa <strong>de</strong> Augusto; mas o que<br />

importa ao gênero humano o <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>ssas fraquezas que não<br />

tiveram influência <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> assunt<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>? (Voltaire, 1878, p.<br />

77 - tradução n<strong>os</strong>sa) 49 .<br />

Voltaire procura <strong>de</strong>ixar claro o seu objetivo <strong>em</strong> relação à história e,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, a<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>, no caso, <strong>os</strong> reis. Comumente, o que causa o interesse<br />

da população são <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua vida privada, porém, para Voltaire, muit<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>sses aspect<strong>os</strong> <strong>em</strong> nada influ<strong>em</strong> na vida da população, ou seja, a dimensão do<br />

espaço público. É a ação do governante e sua responsabilida<strong>de</strong> para com o seu<br />

povo e nação que <strong>de</strong>ve ser analisada e não as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sej<strong>os</strong> e<br />

prazeres. São as <strong>de</strong>cisões e ações que o governante executa <strong>em</strong> relação ao<br />

espaço público que traduz<strong>em</strong> o seu valor e o compromisso com a paz e a<br />

harmonia; é isso que, <strong>de</strong> fato, garante o b<strong>em</strong> comum.<br />

Vê-se que na Europa quase não havia soberan<strong>os</strong> absolut<strong>os</strong>. Os<br />

imperadores, antes <strong>de</strong> Carl<strong>os</strong> V, não ousavam aspirar ao<br />

<strong>de</strong>spotismo. Os papas exerciam maior autorida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Roma do<br />

que antes, mas b<strong>em</strong> menor <strong>sobre</strong> a Igreja. As coroas da Hungria<br />

e da Boémia continuavam a ser electivas, b<strong>em</strong> como todas as do<br />

Norte; e a eleição supõe, necessàriamente, um acordo entre o rei<br />

49 «La curi<strong>os</strong>ité <strong>de</strong>s hommes, qui pénètre dans la vie privée <strong>de</strong>s princes, a voulu savoir jusqu´au<br />

<strong>de</strong>tail <strong>de</strong> la vie <strong>de</strong> Charl<strong>em</strong>agne, et jusqu´au secret <strong>de</strong> ses plaisirs. On a écrit qu´il avait poussé<br />

l´amour <strong>de</strong>s f<strong>em</strong>mes jusqu´à jouir <strong>de</strong> ses propres filles. On en a dit autant d´Auguste ; mais<br />

qu´importe au genre humain le détail <strong>de</strong> ces faiblesses qui n´ont influé en rien sur les affaires<br />

publiques?» (VOLTAIRE, 1878, p. 77)

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